26.11.07

Dos feios não rezava a história...

Sempre houve, na história do ocidente, um sem número de reflexões sobre o belo, em particular como mola para elevar a alma à contemplação do bem. Pelo contrário, sobre o feio escasseou a reflexão, como se este fosse algo a evitar, rejeitar, excluir. O parente pobre. Ou, como diz Umberto Eco na sua História do Feio (Difel, 2007), a abundância da reflexão sobre o belo contrastou com a penúria das formulações sobre o feio.

Hoje em dia, assiste-se a um fenómeno paradoxal: ao mesmo tempo que o feio subiu definitivamente ao palco das preocupações dos artistas, como o retorno de um recalcado (já ninguém se preocupa em fazer arte bonita, a não ser os cabotinos), assiste-se a uma mediatização cada maior da beleza. O que se celebra, de um lado, exorciza-se do outro.

No fundo, o belo e o feio não passam de caretas (imaginárias) do real: em si mesmo, nem belo, nem feio. Mais do que o verso e o anverso da moeda, são os dois "lados aparentes" de uma superfície que tem, na realidade, um só lado.

Assim, tal como a modernidade soube encontrar beleza até nas coisas feias, há que descobrir fealdade nas coisas (aparentemente) belas. É um trabalho de civilização.

1 comentário:

Ary Salgueiro disse...

Ótimo blog o seu! Tou lendo os posts anteriores.

Só um feedback.