22.4.06

As caixinhas em que nos metem


Talvez fosse melhor dizer: as caixinhas em que nos metemos ou deixamos meter. É que há nisto também, sem dúvida, uma responsabilidade nossa.

Serve isto de introdução para algo que vou contar. Um dia destes, uma colega minha pediu-me para preencher um questionário sobre a "maneira de ser" e a estratégia de lidar com o mal-estar no trabalho". Era para o filho, disse, que estava a realizar um trabalho para a cadeira x na universidade y.

A instrução dizia: responda de forma rápida, honesta e espontânea. De forma rápida e espontânea, vá que não vá; agora, ao mesmo tempo, de forma rápida, espontânea e, ainda por cima, honesta é obra!

O que é preciso é fazer sem pensar!

Por exemplo: pensar que, no fim de contas, depois de sermos metidos em caixinhas previamente definidas ficamos todos iguais, uniformizados, catalogados e bem arrumados, segundo etiquetas pré-definidas, perdendo, desse modo, o que nos singulariza e torna "objecção" a toda a ditadura do universal.

Um ser vivo, humano, dissonante em permanência, não cabe em "cinco possibilidades" (ou até que fossem mais...), sejam elas quais forem, por mais (pseudo) científicas que pareçam.

Só os mortos se podem "arrumar" e "catalogar" definitivamente.

11.4.06

Testemunhos


Há coisas - como uma psicanálise, por exemplo - que não são objecto de generalização, visto que não têm por "objecto" o que é igual para todos, antes o que é diferente e singular para cada "sujeito".

Contrariamente ao que crê uma certa retórica "cientista" e avaliativa, "ela não pode provar-se por melhorias mensuráveis; só pode experimentar-se por meio de um testemunho e transmitir-se através de um ensino que leve em conta o obstáculo que o sintoma opõe à teorização" (BADAL, C.-L.,"Sur le cognitivisme - le langage de l'homme sans qualité", L'anti livre noir de la psychanalyse. Paris: Seuil, 2006, p. 276).

Isto não significa que ela se oponha à ciência (que tem na objectividade a sua pedra de toque), antes que se propõe acolher e escutar o que a ciência exclui por definição: o sujeito.

É por estas e outras razões que a revista Règle du jeu (dirigida por Bernard-Henri Lévy) decidiu dedicar o seu número 30 (Janeiro de 2006), sob o título: psychanalyse: contre-attaque, a um enxame de testemunhos sobre a experiência psicanalítica ou a marca, diversa e singular, que o encontro com a psicanálise e/ou com um psicanalista gravou nos mais variados sujeitos.