21.7.07

Felicidade e magia

Hoje apetece-me colocar a questão de outra maneira, completamente diferente. Por vezes é deveras instrutiva esta mudança de perspectiva: as coisas surgem sob um novo ângulo, deixando transparecer à luz aspectos que permaneciam na sombra.

Num pequeno texto intitulado "magia e felicidade", Giogio Agamben diz, a certa altura, o seguinte: "aquilo que conseguimos atingir através dos nossos méritos e do nosso esforço não pode, de facto, tornar-nos verdadeiramente felizes. Só a magia consegue fazê-lo".

De certa maneira, a grande ilusão "kantiana" é pensar que se chega ( a ser digno da ) felicidade através da "boa vontade", do aperfeiçoamento ou do "mérito"; outros pensam que se chega lá através da reflexão, outros ainda da experiência adquirida, da maturidade…Mas nada disso conta na hora de ser (momentaneamente) feliz.

É desse ponto de vista que a filosofia (enquanto espírito crítico e reflexivo) não serve para nada. Aliás, pode até ser o obstáculo, a pedra no caminho, como diria o poeta.

Para ser feliz não há receita, não há fórmula. Não há mérito. Não há curso. Apenas encontro. Por mais que nos contem “histórias de felicidade”, se as tentarmos repetir tais e quais elas nunca ou quase nunca dão certo”. A felicidade, como diz algures, numa entrevista, Jorge Forbes, "é ténue, um encontro provisório. Não é standard, nunca é fixa”.

“Uma espécie de magia”, como diria Agamben. Eis porque ler todos os livros (e são inúmeros) que se escreveram até hoje sobre o tema, deixa em nós uma sensação de enfado. A felicidade pode ser tudo aquilo que se disse, menos o facto de que quando acontece é sempre imprevisível e não há livro, pensamento, receita, mérito ou demérito (o mais feliz pode ser precisamente aquele que não "mereça" tal) que possam ajudar. A não ser, talvez, uma certa "disponibilidade" para acolher o momento, o acaso, a contingência.

É por isso que a progressiva “rasura” da filosofia (levada a cabo pelos nossos políticos), talvez não seja uma coisa tão assim tão má... Eles sabem que, na hora de ser feliz, a filosofia é inútil.

A não ser que pensemos, como Zizek, retomando Lacan, que "a traição do desejo tem um nome: felicidade" (Bem-Vindo ao Deserto do Real). Pode ser que sim, mas desistir de ser feliz, mesmo que impossível, é acomodar-se.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito do seu texto, por um acaso (se é que ele existe), cai em seu blog e o tenho acompanhado.
Realmente ser Feliz...não é fácil , mais quem foi que nos
" iludiu" dizendo que seria?
Consulte meu blog também, através do meu site:
www.janehaddad.com.br
Um abraço e continue com suas reflexões!

Filipe Pereirinha disse...

Obrigado. Consultarei seu blog.
Um abraço