8.7.05

Extra-terrestres


Tom Cruise: um extra-terrestre?

Tom Cruise não é só um talentoso actor de cinema; é também "porta voz da Cientologia" (Courrier Internacional, nº 14, 8 a 14 de Julho de 2005). Parece que ocupa, nesta igreja, um "grau" cada vez mais elevado, segundo a hieraquia da mesma. Nos graus mais elevados, "o cientologista adquire supostamente a faculdade de dominar o seu universo." Por aqui se depreende o "discurso do amo", da mestria que sustenta esta "igreja". Nada de novo debaixo do sol: mudam-se os deuses, os nomes-do-senhor, mas o "discurso" é o mesmo.

Segundo a cosmologia cientologista, os seres humanos transportam as marcas de uma civilização extra-terrestre trazida à terra por um senhor da guerra intergaláctica há vários milhões de anos (Ron Hubbard).

Não deixa de ser interessante esta concepção cosmológica. Interessante porque repetitiva. Há aqui algo de déjà-vu, americano, demasiado americano. Com efeito, não são apenas igrejas como esta, mas igualmente a quantidade assombrosa de programas "americanos" sobre extra-terrestres, em que abundam relatos (reais ou fictícios) sobre "raptos" por extra-terrestres... Dá que pensar!

Talvez a explicação seja mais simples do que pensamos. Isto não quer dizer que seja menos "inconsciente".

Um dos traços que definem a história americana é a expressão "de fora" (extra). Aplica-se a alguém que vem de fora, que é de fora, que não é cá da terra. A América, tal como a conhecemos, foi construída pelos que vieram "de fora" (nomeadamente da Europa), relegando os indígenas cada vez mais para "fora", dentro do seu próprio território e, por fim, eliminando-os ou anexando-os por completo. A América assenta neste duplo "fora" (interno e externo) e nesta dupla "exclusão".

Com a globalização, cresce cada vez mais o sentimento de que, para onde quer que olhem, os americanos encontram apenas o seu reflexo especular. É por isso que têm, de vez em quando, de inventar um "outro" que possam guerrear, um outro que não é lá da terra, que é "de fora". Quando isso não basta, quando o mundo todo parece "a América", então é preciso alguém ou algo "radicalmente de fora" (extra-terrestre) para dar corpo a isso que que todo o americano que veio "de fora" esqueceu, recalcou ou "precluiu". Na impossibilidade de "inscrever" adequadamente este "fora" na sua história, os americanos (é uma generalização, evidentemente) parecem condenados a ser "abduzidos" por ele, sob as mais diversas e estranhas figuras.

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