5.7.10

Elogio da inutilidade

Um grupo de trabalho (ou vários?) prepara-se no Ministério da Educação para mais uma...(adivinhe-se!) reforma educativa.

Num primeiro relance, apercebo-me - é só um exemplo! - que a "filosofia" deparece do 10º ano.

A coisa sempre fez muita comichão a alguns, a muitos. A começar, para os alunos (e não foram outrora os que agora nos governam também alunos?): para que é que isso serve, perguntam eles?

Houve um tempo em que isso serviu para expandir a cultura humanística, as humanidades, como se dizia. Na era da ciência e da "especialização" que ela implica, as próprias humanidades tendem a ser vistas como uma coisa estranha, atópica, sem lugar: algo que não sabemos exactamente como e onde arrumar.

Na verdade, a filosofia é apenas um exemplo. Há cada vez mais disciplinas, teorias e práticas que vão cair em desuso ou serão lançadas para o caixote das "inutilidades" a breve trecho. De resto humanidades rima com inutilidades.

Vem-me à memória - enquanto escrevo - um poema de Angelus Silesius:

"A rosa é sem porquê,
Floresce porque floresce,
Não cuida de si mesma,
Não pergunta se a vêem."

Não serão também as coisas "úteis" fundamente inúteis? Como sabê-lo se cada vez mais o questionamento, a capacidade e a liberdade de nos  interrogarmos será descartada porque não se encaixa nos critérios dos "especialistas"?

1 comentário:

Alda disse...

Agora eliminam, mas quando virem que nos outros países a filosofia é uma disciplina que faz parte dos programas logo nos primeiros anos, então vão fazer o mesmo e, olhando para o espelho, dirão: "SOMOS MESMO INOVADORES!..."