9.1.06

Publixação


Em Portugal, os grandes autores e as grandes referências ou não se publicam, ou não se lêem, ou não têm efeitos. Não fazem "acontecimento", como diria José Gil na esteira de Deleuze.

No entanto, parece que os números dizem que se publica cada vez mais. Há novos editores. Provalvelmente novos leitores.

Como explicar este paradoxo?

Eis a meu contributo para a reflexão: publica-se cada vez mais...para o lixo. Publixa-se.

Coisas breves, sem muitas "calorias", facilmente digeríveis, pois é preciso digeri-las bem para andar bem consigo e com os outros. Coisinhas pequeninas que dão um suplemento de "gozo" (bem doseado) à "vidinha" em que nos está a transformar o discurso "médico-científico". Coisas doces sem acúcar. Diet. Ligt. Soft.

É a preocupação com a "leveza". Até o director do Diário de Notícias , hoje, em entrevista à TSF, dizia que uma das características da nova cara do Jornal é ser mais leve e arejado.

Basta entrar numa grande superfície para ver que não há praticamente diferença entre os livros expostos e cebolas, alhos ou batatas. Coisas para consumir e...obrar.

Daqueles autores e daqueles livros que nos davam um murro no estômago quando os abríamos, quase nem se ouve falar. São demasiado "pesados"e indigestos para o tempo que corre.


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