15.4.05

Os mimos do significante no real

É do senso comum que os mimos fazem bem. O filho, por exemplo, gosta dos miminhos da sua mãe. Até há aquela ideia de que a falta de mimos é prejudical ao pleno s são desenvolvimento da criança.

Até aqui, não há novidade. Porém, um estudo recente de uma equipa de investigação canadiana (Science et Vie, nº 1051, Abril de 2005, pp. 90-94) vem acrescentar novos dados ao problema.

Tradicionalmente, no desenvolvimento do indivíduo, a questão reside em saber qual a importância relativa entre dois factores em presença: o hereditário (genético) e o adquirido (ambiente, meio).

O que é novo neste estudo é que ele parece modificar os dados do problema. Com efeito, não se trata apenas de saber qual o factor (isoladamente considerado) tem mais peso na determinação das características, diferenças e comportamentos dos indivíduos, mas em demonstrar (ainda que de forma inconclusiva, pois o objecto de análise, até agora, incidiu apenas em ratos; uma fase seguinte, que toma por objecto indivíduos humanos, está já em andamento) que os mimos, as carícias a que é sujeita a cria por parte da mãe têm capacidade de modificar o próprio factor genético, predispondo o indivíduo para reagir melhor ou pior, por exemplo, ao stress (objecto da presente investigação). Uma nova disciplina, a "Epigenética", encarrega-se de estudar, não a própria sequência do ADN, que constitui o "alfabeto" de base dos genes, mas as subtis modificações químicas produzidas em torno desta famosa molécula graças ao impacto, por exemplo, do comportamento materno sobre os genes.

Sem ser (ainda) conclusivo, este estudo abre novas questões, ao mesmo tempo que fecha outras.

Um exemplo. O "ambiente" especificamente humano - a não ser que se admita, como parece ser a tentação nalguns meios científicos nos últimos tempos, que não há uma descontinuidade essencial entre o ser humano e as demais espécies - não é apenas o reino do "toque", mudo e silencioso, da mãe no seu bebé, mas também o reino em que esta lhe fala, mesmo quando isso não quer dizer nada, ao mesmo tempo que o mima e acaricia.

As carícias do significante no real biológico - eis um dado "epigenético" a não descurar!

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