23.7.08

Um novo telemóvel ou a lógica do capitalismo

Houve quem fosse vestido de pijama para não perder o lançamento, em Portugal, da última criação da Apple: o novo iPhone 3G.

A tentação dos primeiros foi compensada com um paradoxo: uma maravilha tecnológica que não tinha algumas funcionalidades básicas de outros telemóveis comuns, por exemplo, a possibilidade de enviar um SMS. Seria isto deliberado ou um simples lapso?

Diferentemente do marxismo - que pretendia funcionar segundo uma lógica de satisfação da necessidade - o capitalismo funciona segundo uma lógica da insatisfação do desejo. Com efeito, ele não se limita a satisfazer as necessidades já existentes, mas produz sempre novas necessidades e novos objectos para as (in)satisfazer.

O capitalismo gera insatisfação, histerizando o indivíduo. Para alimentar o desejo, fabrica constantemente novos objectos que desacreditam, diminuem, desvalorizam os objectos já existentes. Se eu não tenho o último grito da tecnologia, o novo iPhone, sou infeliz; mas se eu, vestido de pijama ou em roupa normal, o adquiro, eu continuo a ser infeliz, pois ele não é perfeito. Novos objectos surgirão em breve para continuar a alimentar a máquina infernal do desejo.

É por isso que esta lógica só pode levar a mais e mais insatisfação, produzindo mais e mais infelicidade (numa era, curiosamente, em que basta esticar a mão para que a felicidade, como se diz, esteja ao nosso alcance, ao alcance da mão); infelicidade para a qual o capitalismo também se encarrega de produzir os seus remédios, as sua pílulas...da felicidade

2 comentários:

Unknown disse...

Fico em dúvida se o capitalismo histeriza mesmo o sujeito ou se a lógica é outra, do tal "sujeito moderno". A histérica ainda preza sua condição de ser faltante, de um jeito ou outro; no capitalismo, o sujeito (pós) moderno acredita ser possível suprimir a falta e busca a impossível completude em seus pequenos objetos de gozo: Ipod, celulares, roupas, viagens...

Belo texto ;-)

Filipe Pereirinha disse...

Usei o termo "histerização" num sentido que não é redutível à "histérica" ou à "histeria"... De qualquer modo, considero o seu comentário muito pertinente.