30.6.07

Globalização


A globalização, de que Portugal foi um dos pioneiros (ver revista "Actual", Expresso de 3o de Junho de 2007), é uma daquelas palavras que têm o condão de nos ofuscar. É verdade que ela tem os seus efeitos no quotidiano mais corriqueiro: por exemplo, apesar de continuarmos a usar a expressão "fruta da época", ela já não corresponde a nada, visto que a época da fruta, para quem vai ao hipermercado, é todo o ano. "A fruta da época" (como "o sol nasce" ou "Deus existe") anda mais devagar que o "real". O "real" chama-se economia global.

O correspondente ideológico da economia global é o "multiculturalismo", ou seja, o discurso da tolerância em relação ao Outro.

Mas seremos nós realmente "tolerantes" em relação ao Outro, ou seremos tolerantes apenas na medida em que ele se adapte ao nosso modelo (económico) e à nossa maneira de pensar, isto é, se transforme num pequeno outro igual a nós, consumidor dos mesmo produtos?

Uma tolerância levada ao extremo teria igualmente de aceitar o "gozo do Outro", no que este se revela, por vezes, como intolerável e obsceno (como demonstram, à exaustão, certas práticas abjectas, em particular sobre as mulheres, que tendem a persistir em muitos países).

A tolerância multiculturalista funciona como uma "tela encobridora" perante o real, impossível, do gozo do Outro.

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