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A pergunta, que surge sob a forma de argumento (visando provar a necessidade de admitir, como hipótese racionalmente legítima, a existência de vida extraterrestre), releva, na verdade, de um típico "horror do vazio" que caracteriza, nomeadamente, a civilização ocidental. O homem ocidental é, basicamente, alguém que não sabe o que fazer, ou como fazer, com o vazio.
O espaço é, deste modo, concebido como algo que tem de ser conquistado, preenchido, colonizado. De preferência, com seres criados à nossa imagem e semelhança, mesmo quando diferentes. Desse ponto de vista, causa impressão e vertigem que haja tanto espaço vazio.
É neste contexto que fazem sentido (um sentido novo, como só os poetas são capazes) as palavras que tive a felicidade de escutar recentemente de um grande pensador e "amigo dos poetas", Eduardo Lourenço, num dos encontros subordinados ao tema "Café com Letras", que decorre uma vez por mês, salvo erro, na Biblioteca Municipal de Loures, e onde onde já estiveram igualmente outros grandes escritores, tais como Saramago ou Lobo Antunes, para referir apenas dois.
A certa altura, Eduardo Lourenço pediu aos assistentes que imaginassem o que aconteceria se de repente soubéssemos que o espaço acima da nossa cabeça tinha, por exemplo, um limite de 100, 1000, ou até mesmo 10000 Km, ou seja, que estávamos, literalmente, confinados a uma redoma.
A esta pergunta, respondeu o autor: teríamos dificuldade em respirar. Precisamos de todo o espaço do mundo, do cosmos, do infinito, para respirar bem.
Mesmo se poética, esta resposta não deixa de ser um belo contraponto à visão "americana" (e redutora) do espaço, vinda de alguém que já tem idade suficiente para brincar com a sua própria vida: "pertenço à geração, disse ele, dos que nunca mais acabam de morrer". Naturalmente, esta pequena ironia provocou uma gargalhada geral.
Que belo presente de Natal!