Na edição de 6 a 12 de Dezembro de 2007, a revista Sábado dedicou um artigo à conhecida organização da igreja católica "Opus Dei" (pp. 52-64). A ocasião não deixa de ser propícia, devido ao avolumar de escândalos que têm envolvido, nos últimos tempos, pessoas directa ou indirectamente ligadas a esta organização.
À primeira vista, o que move estas pessoas é uma renúncia ao gozo (traduzida numa disciplina da mortificação do corpo e do prazer) em prol do trabalho (ou, nos termos do seu fundador, Josemaría Escrivá de Balaguer, da "santificação pelo trabalho"). Não é de estranhar que uma tal organização conviva tão bem com o capitalismo: no fundo, trata-se aqui da relação do sujeito capitalista com o gozo.
Com efeito, a disciplina da renúncia ao gozo em prol do trabalho, não vai sem um "lucro", uma -mais-valia, um suplemento de gozo. Prova disso, é, por exemplo, o uso instrumental - enquanto "objecto"- da "disciplina": um chicote de cordas que deve atingir as nádegas - porquê as nádegas? - enquanto o numerário, isto é, o membro interno da organização, reza uma oração à escolha, despido, uma vez por semana.
Um dos paradoxos da "renúncia ao gozo", como assinalava algures o velho Freud, é que ela é voraz e exige sempre mais, o que leva alguns, por exemplo, a acrescentar sempre novas formas de mortificação à sua "dieta".
O que acontece, não obstante, é esse "plus-de-jouir" (como diria Lacan) já não parece suficiente para apaziguar alguns ânimos...
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