Segundo uma afirmação recorrente do próprio, o conhecido Nobel da literatura , José Saramago, "não tem um riso fácil", sem que isso signifique, de modo algum, que não se emocione.
Foi a este propósito que eu o ouvi mais uma vez, um dias destes, num programa de rádio, repetir algo sobre a actual educação das crianças: toda ela parece apostada em fazer desaparecer a tristeza quanto antes. Ao primeiro sinal de tristeza, é preciso fazer algo: calar sem escutar o que ela tem a dizer, sem dar tempo.
Na verdade, é também de uma relação com o tempo que aqui se trata : não há tempo para escutar, por isso se (re)produzem e tomam em abundância, para gáudio das empresas farmacêuticas, pequenas pílulas mágicas, cada vez mais disseminados tanto por adultos como por jovens e, até, por crianças.
Um dos paradoxos é que, em vez de apaziguar a tristeza, uma tal postura parece estar a transformar-se, pelo contrário, numa bola de neve que vai arrastando tudo o que encontra pelo caminho.
É verdade que já os antigos diziam que a tristeza (a acédia) é um pecado; mas não seria de equacionar igualmente que o "riso fácil" (que se tenta promover a todo o custo) é, hoje, um pecado ainda maior?
Com efeito, na era do simulacro generalizado em que vivemos, a tristeza é, para alguns, uma das poucas formas de aceder, de tocar no "real". Consigam eles tirar partido disso.
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