12.12.07

A importância da caixa

Num filme de 1994, "A Caixa", o conhecido cineasta Manoel de Oliveira mostra como uma simples caixa de esmolas pode ser o núcleo central e desencadeador de toda uma série de situações e acontecimentos.

Não me proponho recordar este filme. Simplesmente, ao ouvir, hoje, numa reunião de encerrramento das actividades lectivas, para a celebração do Natal, o educador do meu filho (alguém com ideias apararentemente lúcidas e bem arrumadas), dizer algo sobre as caixas de brinquedos, veio-me à memória este filme de Oliveira.

Dizia ele que os pais deveriam preocupar-se com o tipo de brinquedos que davam aos seus filhos, nesta época de Natal, uma vez que, mal aberta a "caixa", rapidamente o entusiasmo inicial pelo brinquedo desaparecia. O seu pensamento procurava vincar a ideia de que não vale a pena oferecer brinquedos muito caros ou sofisticados se todos eles estão condenados a ter uma vida efémera nas mãos das crianças. Mais vale, por isso, usar a imaginação e oferecer brinquedos porventura mais simples, mas com um efeito mais duradouro e imaginativo.

Tem razão, a meu ver, no essencial do que disse. Só faltou acrescentar o seguinte: em última análise, todos os brinquedos, do mais simples ao mais complexo, são indiferentes, porque aquilo que conta mais, para uma criança, não é tanto o brinquedo em si, mas antes o gesto e o momento de...abrir a caixa: aquele lapso de tempo, que pode ser mais ou menos demorado - pois não tem a ver com o tempo dos relógios -, em que tudo é ainda possível. Quando se abre a caixa, em vez da "coisa" esperada, o que se obtém é sempre pouco, apenas mais um "objecto" entre objectos. O efeito da "surpresa", como perceberam algumas marcas consagradas, resulta desse "tempo lógico" da abertura da caixa ou de um envólucro semelhante. Veja-se o caso, por exemplo, dos famosos "kinder surpresa": mais importante do que aquilo que acaba por ser aí colocado (sempre uma coisa de nada), é o facto de "isso" estar envolto em..mistério.

É por isso que a avó do anúncio (como se fosse outra vez criança) tem mais razão que o neto que lhe oferece um presente quando diz: "Uma caixa com um laço; obrigado, netinho". Claro que o neto também tem razão quando acrescenta: "Ó avó, tem de abrir a caixa!" Mesmo querendo dizer outra coisa, ambos dizem o essencial: fechada ou aberta, o importante é a caixa.

4 comentários:

Fernando Borges de Moraes disse...

Muitos pais deixam as crianças escolher seus presentes o que acredito ser tremendamente empobrecedor. Belo artigo!

Filipe Pereirinha disse...

Muitos pais deixaram de alimentar o desejo...

Anónimo disse...

Eu que já não tenho idade de criança tenho a mesma sensação de descoberta e expectativqa ao abrir algo, mesmo um Kinder SURPRESA!!
Fernanda O.

Anónimo disse...

Curioso o ato falho (ou não?) de escrita, quando você se refere ao professor, cujas idéias são "apararentemente" lúcidas e bem arrumadas... Um abraço