A civilização inventou um disparate que se chama "maturidade". Ser maduro significa, essencialmente, não ter comportamentos de criança e guiar-se, única e exclusivamente, pela luz da razão. Acontece que é nos momentos em que esta luz se apaga e voltamos a ser crianças que é possível "tropeçar na felicidade".
Foi, porventura, com este raciocínio que "os idiotas"(idioterne) do filme de Lars Von Trier (1998) se dedicaram a redescobrir uma série de comportamentos próprios de crianças ou deficientes (babando-se, por exemplo, ou passando em público por verdadeiros deficientes mentais) a fim de alcançar uma naturalidade ou genuinidade que a civilização (burguesa) teria "recalcado".
De um certo ponto de vista, este filme é paradigmático de toda uma corrente de ideias que alimenta a "cultura" actual: é preciso, por todos os meios, travar o curso do tempo, do amadurecimento, e recuperar a infância (ou juventude) perdidas.
Porém, tal como mostra o filme de Lars Von Trier, este processo de "idiotização" ou infantilização tem um limite (real) e acaba por revelar, de um modo ou de outro, a sua artificialidade: a busca de pureza e naturalidade revela-se, no fim, como pura fantasia. Excepto para aqueles que a vivem a céu aberto, tal como é representado por Karen, uma das personagens.
2 comentários:
Marcante. Do projeto "Dogma", né? Adoro o Lars e acho maravilhosa a série que ele está dirigindo sobre os EUA. A próposito de seu enfoque, um amigo psicanalista costuma afirmar que "o homem não amadurece; ele apodrece".
Sds.
Os filmes de Lars Von Trier (que eu tenho acompanhado, de um modo geral)colocam, de facto, várias questões pertinentes. Da série sobre os Estados Unidos, só tive ainda oportunidade de ver "Dogville", sobre o qual escrevi inclusivamente algumas linhas em http://members.tripod.com/jmpeneda/cartaacf/dogville2.htm
Um abraço
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