25.9.07

Um nada que é tudo


O meu filho tem um gosto aparentemente bizarro: colecciona pedras. Toda a pedrinha que encontra no chão é objecto do seu interesse.

Mas será um gosto assim tão bizarro?

A minha tese é que ele já apreendeu o "o segredo"de toda a arte pós-Duchamp: qualquer coisa serve - um urinol, uma pá, uma roda, uma pedra...não interessa.

Qualquer coisa serve para ocupar provisoriamente o vazio da Coisa: essa coisa que perdemos quando começamos a falar.

Aliás, este gosto, aparentemente infantil, é afinal o que move grande parte das realizações humanas. Caso contrário, não se perceberia o entusiasmo, a paixão com que a tecnociência contemporânea não cessa de produzir, num ritmo alucinante, novos objectos. Já não se chamam pedras, mas telemóveis, computadores, ipods... e um sem número de outras nomes.

Dei por mim a pensar nestas coisas quando assistia, ontem, ao programa "Prós e Contras" (RTP1) e ao entusiasmo "infantil" com que os participantes falavam do admirável mundo novo da tecnologia.

Pedras, pedras no caminho...

7 comentários:

Anónimo disse...

Oi, me chamo Zanom.
Achei legal seu filho colecionar pedras, me parece realmente muito interessante e bonito e particular. As pedras têm seu charme...
Li seu blog e gostei muito.
Abs.

Obs. Permita uma pequena transgressão que coloco em uma música minha chamada Solo Pedregoso:

Existe uma pedra no meio do caminho ou um caminho no meio das pedras?

Filipe Pereirinha disse...

Continuamos a fazer variações em torno do verso de Drummond de Andrade: "No meio do caminho tinha uma pedra..." O meu filho ainda não lê poesia, mas já colecciona pedras; é preciso começar por alguma coisa...

antónio m p disse...

O seu artigo deixou-me pedrado. Eu que já ponhos um "molho" de pedras como aquele na cabeça do meu blogue. Pedras na cabeça? O que dirá um psicanalista desta conversa!? Cumprimentos.

Anónimo disse...

Fernando Pessoa escreveu: "pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo."

;-)

Alexandra

Filipe Pereirinha disse...

Não me lembrava desse verso do Pessoa, mas é bonito. Quando penso em pedras no caminho vem-me sempre à memória o verso de Drummond de Andrade...

Anónimo disse...

pedras no caminho? ande descalço...

Filipe Pereirinha disse...

É um convite a considerar...