24.9.07

Arte da prudência

Descartes acreditava ser necessário um método para bem conduzir o pensamento e a vida. O que fazer, porém, quando o barco da vida perdeu o Norte e navega agora num mar de incerteza e contingência, sem um Grande Outro (seja Deus ou a Razão) que lhe sirva guia?

Talvez a resposta seja aquilo a que Baltasar Gracián chamava a "Arte da Prudência". Ser "prudente" significa, neste caso, saber-fazer com a incerteza e a contingência. "Saber-fazer" não é a mesma coisa que "saber". Contrariamente à fantasia hegeliana de um "saber absoluto", há algo que é impossível de saber; não porque o fechemos à chave ou lhe dificultemos o acesso (é a nossa fantasia), mas porque há, estruturalmente, um saber que não se sabe. Que ninguém sabe.

Trata-se, então, de saber-fazer com o não saber. E como as razões se acabam depressa, como diria Wittgenstein, temos de agir sem elas.

Sem comentários: