7.9.07

Aqui há rato...


Tem-se falado ultimamente de ratos a propósito da praga que assola a vizinha Espanha e que, segundo alguns, pode chegar a Portugal. Seria uma variação interessante do velho ditado: de Espanha, nem bons ventos, nem bons...ratos!

Veio mesmo a calhar o filme "Ratatouille", actualmente em exibição nas salas de cinema. Não que o significado do termo tenha algo a ver com ratos, pois o ratatouille é um prato rústico, típico da região de Provence. Pouco importa: o que conta, independentemente do significado, é que quando ouvimos o significante, em português, não conseguimos deixar de pensar em ratos. E com razão, pois os protagonistas do filme são, na verdade, ratos, em especial um que se chama Rémy. Eu sei disso porque fui "obrigado" a ver o filme duas vezes por causa da paixão que o meu filho, de cinco anos, lhe consagrou. Aliás, por causa disso (a função paterna?) tenho visto inúmeros filmes para "crianças", mas raramente com tanto prazer como este último.

O argumento poderia resumir-se da seguinte maneira: trata-se do encontro, improvável, entre duas coisas que não podem estar mais afastadas entre si: ratos e cozinha. Seguindo a máxima do malogrado chef Auguste Gusteau, segundo a qual "todos podem cozinhar" (até um rato), Remy, um rato "atópico", isto é, desenquadrado do seu meio natural, torna-se num verdadeiro criador da arte culinária. De tal forma que até o maior crítico do meio, Anton Ego, fica rendido.

A cena é comovente: quando o crítico, reticente, após ter pedido algo que o surpreenda, prova o "ratatouille" feito pelo pequeno Remy (embora não sabendo que está a comer comida feita por um rato), é tomado por uma espécie de vertigem do espaço-tempo que o leva de regresso à infância. O que vemos, então, é a súmula de todo o filme e resume-se numa frase: não há cozinhados como os da mamã.

Com efeito, o que vemos nesse flash retrospectivo é o pequeno Anton Ego a ser alimentado pela sua mamã, saboreando, com todo o prazer, o seu (primeiro?) "ratatouille". Que possamos deliciar-nos, também nós (e não só as crianças...) com esse espectáculo de "imagens", é a prova de que há, para além da mera necessidade, uma outra satisfação que é igualmente alimentada.

2 comentários:

Fernando Borges de Moraes disse...

Não assisti ao desenho, mas me lembrou da "madeleine" de Proust...

Filipe Pereirinha disse...

Bem visto. Não tinha feito, à partida, a associação, mas parece-me muito pertinente. Aquele instante em que Anton Ego prova o "Ratatouille" e regressa à infância tem qualquer coisa de parecido.