21.7.07

Um gozo idiota?...


Um "gozo idiota" é aquele em que o Outro (sexo) não entra, a não ser "fantasmaticamente". Um bom exemplo deste tipo de gozo é a auto-masturbação.

De certa forma, todo o gozo é idiota, na medida em que não se "funde" com o Outro (gozo), mas, por vezes, chega até a "colidir" com ele. Eis o que mostra (goste-se ou não da forma adoptada) o último filme de Quentin Tarantino.

O "desmaio" ou a "morte" são limites para o gozo. A invenção da "imortalidade" (as penas do Inferno ou as delícias do Paraíso, por exemplo) foram, outrora, uma forma de perpetuar (ou tornar possível) o (pouco) de gozo conseguido aqui.

Hoje, na era "pós" ou "hipermoderna", as soluções inventadas são outras: por exemplo, um carro "à prova de morte"(death proof). É esta a solução "inventada"no filme de Tarantino: num carro artilhado 100% à prova de morte, Stuntman Mike (um ex "duplo"de cinema "série B") leva a cabo as suas "colisões" mortais com um grupo de raparigas.

O que é apresentado neste filme é cada um dos sexos "sozinho" com o seu gozo, em rota de "colisão" (cada um por sua vez) com o Outro, acabando por anulá-lo, desmembrá-lo, fragmentá-lo, reduzi-lo a pedaços. Fantasma de um "corpo fragmentado" na era dos "gadgets"?

É um filme sem saída, "inabitável" (como dizia Jorge Leitão Ramos no Expresso de hoje): puro cenário "perverso", de uma violência desmesurada e gratuita.

O problema é que no cinema, tal como no amor, não há fórmula, a não ser quando um e outro começam a repetir-se. Nesse caso, o fim do amor, tal como do cinema, está próximo. Temo que seja o que acontece com os filmes de Quentin Tarantino: começam a ser demasiado repetitivos e, como tal, previsíveis.

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