11.11.11

Retificação subjetiva

Por natureza, a ciência exclui a subjetividade, sendo por isso extremamente raro que um cientista tome a palavra para falar abertamente das sua "crise" subjetiva enquanto cientista. Parece que as duas coisas não colam: ou se faz ciência (e a subjetividade é excluída) ou se fala de si (e é a ciência que fica provisoriamente a hibernar).

Não é este o caso de "Criação imperfeita", um livro do físico Marcelo Gleiser (Círculo de Leitores, 2011). Com efeito, aquilo que se lê ao longo de mais de trezentas páginas é a história, a narrativa do que eu não hesitaria em chamar de uma autêntica "retificação subjetiva".

Adepto fervoroso durante anos daquilo que em física se chama "Teoria de tudo", Marcelo Gleiser conta-nos como a "pró-cura" (expressão tomada pelo autor do psicanalista Hélio Pelegrino) de uma "Teoria final" se converteu a certa altura em doloroso impasse.

Marcelo Gleiser argumenta que essa busca (baseada na noção de que quanto mais profunda e abrangente é a descrição da natureza, maior o seu nível de "simetria" matemática) é ilusória, pois tudo aponta para um cenário
no qual tudo emerge de imperfeições, de assimetrias primordiais na matéria e no tempo.

Daí que Marcelo Gleiser proponha uma "nova estética" para a ciência: uma estética que abandone a velha ideia grega de que "beleza é verdade" (ou a verdade é bela), tal como aconteceu na arte partir do século XX.

Esta ideia, pouco usual, de que a ciência ainda não fez a sua revolução estética não deixa de desafiar todos aqueles que falam, por vezes, das teorias científicas com o adjetivo "elegante"... Como se o universo vestisse Armani!

2 comentários:

Alda disse...

Não concordo: ciência vestida à moda de Armani seria o máximo! Pelo menos todos lhe prestaríamos mais atenção e se o cérebro se despistasse, os olhos alegrar-se-iam.

Alda disse...

aNão concordo: ciência vestida à moda de Armani seria o máximo! Pelo menos todos lhe prestaríamos mais atenção e se o cérebro se despistasse, os olhos alegrar-se-iam.