15.2.11

Obscenidades

Outrora o pintor Velasquez cometeu o feito de trazer para dentro da cena o que lhe era exterior. Uma "obscenidade" que abriu um precedente. Na era em que tudo deve ser visto e mostrado, as televisões e a Internet encarregam-se de elevar a obscenidade a patamares nunca dantes alcançados. E não é só a televisão ou a Internet, mas também as rádios, os jornais e as revistas de todo o mundo.

Fala-se de tudo, mostra-se tudo. E quanto mais obsceno melhor! Veja-se o tão falado caso do jovem modelo português que assassinou um conhecido cronista social  num hotel de Nova Iorque (que melhor palco para vir à cena o obsceno, isto é, o que é suposto ficar fora de cena!).

A quantidade de informação (crónicas, debates, artigos, programas diversos...) que já se produziu sobre o assunto faz-nos porventura pensar que aquilo que se visa é esclarecer (isto é, trazer um pouco mais de luz, como diriam os iluministas) sobre este caso; porém, de uma forma geral, não parece haver outra finalidade senão alimentar, até à exaustão, a nossa necrofagia.

Em vez de máquinas de iluminar, como se propõem, os meios tecnológicos ao alcance de todos são, hoje, verdadeiras máquinas de obscurecer. Cegos de tanto ver, surdos de tanto ouvir!

4 comentários:

Anónimo disse...

Estamos a ficar insensíveis. Só gostamos do espectáculo. Veja-se o caso dos "velhinhos". Solidão? Não! É só a euforia da imagem das televisões. Do ruído das rádios. Das letras nos jornais.Quando a euforia acabar, tudo desaparecerá. Mas os "velhinhos" vão continuar a morrer solitários.

Luna Blanca disse...

A beleza existe em tudo - tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la.

Anónimo disse...

Escher já mostrava a tendência de juntar o cênico e o obs-cênico.
Talvez a nossa época tenha acentuado ao extremo O olho absoluto em detrimento do ver...

Anónimo disse...

O olho absoluto - livro de Gérard Wajcman (vídeo em )