1.6.09

Sobre-voos

Há quem diga: Filipe, há muito tempo que o teu blogue está parado!
Itálico
É verdade, respondo, mas a razão principal é porque eu não estou. Tenho andado em movimento.

É conhecido o gosto do nosso querido poeta, Fernando Pessoa, pelo movimento imóvel, pela viagem parada ou o teatro estático.

Eu tenho, porém, andado em movimento num outro sentido, mais exterior: por exemplo, de Lisboa a Paris, onde escutei uma conferência "memorável" de Jacques-Alain Miller, não só por razões intrínsecas (que já bastariam), mas igualmente por razões extrínsecas. Com efeito, para ouvir até ao fim não apenas o que ele disse na sua conferência, mas igualmente os comentários que esta suscitou nos ouvintes, acabei por chegar um pouco atrasado ao aeroporto. A consequência foi a seguinte: o que disse Miller no final dessa manhã (10 de Maio), durante o Congresso da New Lacanian School/Nouvelle École Lacanienne, tornou-se, para mim, na fala mais cara de sempre.

Quando contava, a colegas e amigos, o que tinha acontecido, ocorreu-me dizer "MILLAIR-FRANCE": uma espécie de avião homofónico para sobrevoar, com algum humor, o in-suportável da coisa.



Outros movimentos mais recentes ocorreram, igualmente de avião: não para ouvir, desta vez, mas para falar. Ou melhor: ouvir e falar. Pelo terceiro ano consecutivo, fui convidado para ir ao Brasil, a Curitiba, falar nas Jornadas de Direito e Psicanálise, um acontecimento verdadeiramente empolgante não só pelo carácter inédito do trabalho que aí se realiza, mas também pelo ambiente, pela atmosfera que o rodeia.

Este ano, o que serviu de base à nossa reflexão foi um livro de Clarice Lispector (A Hora da Estrela), alguém que não cessou de escrever, de acercar-se do impossível de dizer por meio da escrita, mesmo se esta - como ela própria afirma na dedicatória do livro- lhe atrapalhava a vida.

Talvez, então, aquilo que nos "atrapalha" a vida não seja simplesmente para descartar ...

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