17.11.06

Um acontecimento






















Um acontecimento não é só um facto ou uma ocorrência, um acaso ou uma eventualidade que se realiza de modo mais ou menos inesperado; é também algo ou alguém digno de nota, extra-ordinário, que rema (ou rima?) contra a maré dos "acontecimentos".

É um facto que Slavoj ZizeK é psicanalista e filósofo (conjugação improvável, segundo muitos). Ocorreu igualmente que ele se tornou, nos últimos anos, uma "estrela" em vários firmamentos. É, enfim, verdade que o seu pensamento é digno de nota, em particular na forma como, agarrando o fio de Ariadne deixado por Lacan, Hegel e Marx, entre outros, ele tem vindo a fazer o seu próprio caminho de forma singular.

O que é inesperado - até certo ponto - é que ele esteja a ser traduzido para português!

A culpada do feito é a Relógio de Água, para bem dos nossos pecados.

Mesmo que a igreja Católica venha dizendo às almas que já não há Inferno (era uma fantasia), Slavoj Zizek, diz-nos, com Lacan, que há real (é o nosso sintoma) com que temos de haver-nos; por isso, Bem-vindos ao deserto do real!

Mesmo que o discurso reinante diga que vivemos num universo pós-ideológico, o multiculturalismo despolitizado é, segundo Zizek, a nova ideologia do capitalismo global; por isso, é necessária uma certa dose de intolerância (daí o elogio da mesma) para que se possa elaborar uma crítica da actual ordem das coisas.

Mesmo que outros digam que o sujeito e a subjectividade são temas defuntos, Slavoj Zizek apela a uma subjectividade por vir, reinventada, que tenha em conta as relações com o real.

É por estas e por outras que vale a pena de-gustar o acontecimento!

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