 Aqui há uns anos, uma das personagens do filme "Contacto" (baseado na obra homónima de Carl Sagan), perguntava - e cito de cor - para quê tanto espaço se não há mais vida inteligente para além  da que existe no planeta terra?
Aqui há uns anos, uma das personagens do filme "Contacto" (baseado na obra homónima de Carl Sagan), perguntava - e cito de cor - para quê tanto espaço se não há mais vida inteligente para além  da que existe no planeta terra?A pergunta, que surge sob a forma de argumento (visando provar a necessidade de admitir, como hipótese racionalmente legítima, a existência de vida extraterrestre), releva, na verdade, de um típico "horror do vazio" que caracteriza, nomeadamente, a civilização ocidental. O homem ocidental é, basicamente, alguém que não sabe o que fazer, ou como fazer, com o vazio.
O espaço é, deste modo, concebido como algo que tem de ser conquistado, preenchido, colonizado. De preferência, com seres criados à nossa imagem e semelhança, mesmo quando diferentes. Desse ponto de vista, causa impressão e vertigem que haja tanto espaço vazio.
É neste contexto que fazem sentido (um sentido novo, como só os poetas são capazes) as palavras que tive a felicidade de escutar recentemente de um grande pensador e "amigo dos poetas", Eduardo Lourenço, num dos encontros subordinados ao tema "Café com Letras", que decorre uma vez por mês, salvo erro, na Biblioteca Municipal de Loures, e onde onde já estiveram igualmente outros grandes escritores, tais como Saramago ou Lobo Antunes, para referir apenas dois.
A certa altura, Eduardo Lourenço pediu aos assistentes que imaginassem o que aconteceria se de repente soubéssemos que o espaço acima da nossa cabeça tinha, por exemplo, um limite de 100, 1000, ou até mesmo 10000 Km, ou seja, que estávamos, literalmente, confinados a uma redoma.
A esta pergunta, respondeu o autor: teríamos dificuldade em respirar. Precisamos de todo o espaço do mundo, do cosmos, do infinito, para respirar bem.
Mesmo se poética, esta resposta não deixa de ser um belo contraponto à visão "americana" (e redutora) do espaço, vinda de alguém que já tem idade suficiente para brincar com a sua própria vida: "pertenço à geração, disse ele, dos que nunca mais acabam de morrer". Naturalmente, esta pequena ironia provocou uma gargalhada geral.
Que belo presente de Natal!
 
 

