Há palavras assim: parecem mágicas, capazes de abrir todas as portas, de resolver todos os problemas. A "avaliação" é uma dessas palavras. Por tudo e por nada, diz-se: "há que avaliar!"
Quando alguém diz, por exemplo - como tem sido o caso nos últimos dias - que os professores têm de ser avaliados (o que, na essência, ninguém contesta) é importante saber quem fala e qual a posição "subjectiva" (pois nunca é neutra, contrariamente ao que se pretende fazer crer) de onde se fala; em nome de que critério ou critérios supostamente "objectivos"; com que finalidade "estatística"...etc.
Depois de responder a todas estas perguntas - e as demais que possamos formular - não será difícil concluir que a bandeira da avaliação é agora empunhada por aqueles pelos mesmos que, em outros tempos, empunharam a bandeira da "educação": a famosa "paixão da educação" que deu no que deu, isto é, em nada. Como em todas as paixões, o entusiamo é directamente proporcional à cegueira, ainda que inversamente proporcinal ao tempo, ou seja, quanto maior é o tempo, menor a chama.
"A avaliação é esencialmente uma retórica. Os avaliadores são os sofistas de hoje" (Cf. Jacques-Alain Miller e Jean Claude Milner, Voulez-vous être évalué?, Paris: Édition Grasset, 2004).
A "avaliação", que começa a fizer sintoma, é um fantasma "moderno" na era pós-moderna.
A "singularidade" não se avalia e uma cultura que deixe de cultivar a singularidade (em que tudo seja mensurável segundo uma medida comum) já está, num certo sentido, morta.
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