20.6.07
A verdade e a mentira
Wittgenstein, um importante filósofo do século XX, afirmava, a certa altura, que aquilo que não se pode dizer, mostra-se. Não seria possível inverter a ideia, afirmando que aquilo que não se pode mostrar, diz-se?
Há um limite, um impossível de dizer, ao nível da palavra, tal como há um limite, um impossível de mostrar, ao nível da imagem. É por meio desse "impossível" que "ex-siste" algo de real.
Mas há, não obstante, imagens que falam como poucas palavras e palavras que mostram como poucas imagens.
Um bom exemplo de palavras que mostram como poucas imagens é uma frase que surge, algures, no último livro de José Eduardo Agualusa (Cf. As mulheres do meu pai, Edições Dom Quixote): "De quantas verdades se faz uma mentira?"
Esta frase pode ser lida, pelo menos, de duas maneiras: a "histérica" e a "obsessiva". No primeiro caso, seria: a mentir se diz a verdade; no segundo: dizendo a verdade se mente.
Mas ela é, sobretudo, a perfeita ilustração de uma "banda de moebius", essa figura da topologia que, aparentando ter dois lados, tem apenas um: entre a verdade a a mentira, mais do que oposição, há continuidade.
É por isso que a ficção tem um valor fundamental: ela é tanto a casa da mentira como da verdade.
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