17.6.07

New age


Numa carta endereçada a Freud, o escritor francês Romain Rolland expressava a opinião de que a verdadeira origem da religiosidade residiria num "sentimento oceânico": uma sensação de "eternidade", de algo sem fronteiras, sem limites (Cf. Freud, O Mal-estar na Cultura).

Freud, que começara por contestar a "universalidade" e a pertinência deste sentimento, procurou, apesar de tudo, situá-lo de um ponto psicanalítico, buscando esclarecer as razões "psicopatológicas" que estariam na base de um tal sentimento.

Isto era escrito na primeira metade do século XX. Hoje, passado todo este tempo, o evangelho do "sentimento oceânico" parece regressar em força sob o nome, um pouco difuso, de "New age": uma "nova era" de espiritualidade, de harmonia universal e sem fronteiras. Na "era" da televisão, da internet e do Marketing generalizado, esta "espiritualidade ecléctica" rapidamente se espalhou à escala global. As livrarias (reais e virtuais) do mundo inteiro vendem-na como se fossem rebuçados.

Não obstante, sob este manto diáfano que cobre o mundo, as "guerras religiosas" ou para-religiosas nunca estiveram tão vivas. O que levanta a questão: o que (de)nega, ou pretende, (de)negar a ideologia new age?

Por outro lado, é verdade que o mundo é cada vez mais "um só": mas isso, como sabemos, é conseguido graças, não ao poder da espiritualidade, mas da economia global e sem fronteiras. Enquanto "consumidores", somos cada vez mais "um só".

Todos somos, efectivamente, consumidores, até da espiritualidade new age

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