21.6.07
O objecto voz
A "voz humana" serve para diversos fins: exprimir uma emoção ou uma ideia, fazer um apelo, transmitir uma informação, etc. Deste modo, ela serve de "meio" de comunicação entre os humanos.
Geralmente, a "voz" não é perceptível enquanto tal, ficando por assim dizer "calada" enquanto falamos uns com os outros. Quando a voz começa a ouvir-se já é problemático: o que pode ir de uma simples "estranheza" (quem não tem a experiência do incómodo que é ouvir a sua voz gravada ou o retorno da mesma quando fala, por exemplo, ao telemóvel?) até à angústia avassaladora que é experimentada em certos fenómenos de natureza psicótica.
Nesses casos, a "voz" perde a sua dimensão de "meio", de instrumento de comunicação, para ganhar uma consistência própria, uma textura ou "substância de "gozo".
Fazer dessa textura uma obra, tomando a voz como matéria de criação, é um outro exemplo, diverso, da manifestação da voz enquanto voz. Eis o que vem fazendo, desde há alguns anos, Fátima Miranda (a quem já chamaram simplesmente "a voz").
Com uma sublime mestria, ela consegue elevar a voz à dignidade da "coisa".
Um verdadeiro acto de "sublimação", como diria Lacan.
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