24.7.08

Sem-título (uma cadeira olhando o mar)

Um banco é um objecto fabricado pela mão do Homem, que tem, em princípio, uma função delimitada: serve para nos sentarmos.

Um banco, à beira mar, é uma tentação. Apetece demorar-se nele, ouvindo o som das ondas que explodem na rocha e vendo a sua brancura festiva aí se espreguiçando.

Também fui tentado e ali me sentei por mais de uma vez. Como eu, muitos outros. Com excepção dos que têm vertigens ou receio da proximidade da água, toda a gente acaba por sentir, uma vez ou outra, o desejo de experimentar a sensação de estar ali sentado por algum tempo. Às vezes, apenas o fugaz instante de ver, de olhar o mar; outras vezes, o instante efémero de ser olhado pela objectiva fotográfica, de fazer-se olhar. Uns e outros se demoram ali, por algum tempo, até que são de novo chamados à realidade.

Quando o ciclo da semana recomeça e todos se vão embora, o banco fica sozinho...olhando o mar. É então que ele adquire uma aura e uma beleza especiais: já não serve para nada. É nesse instante que o fotógrafo, surpreso com um tal objecto , o eleva à dignidade da Coisa: vazia, inútil, espantosa.

Uma figura do espanto. No limiar da vertigem. À beira mar.

Um agradecimento especial ao fotógrafo Manuel Silva. Só o texto é meu; a máquina, o olhar e a sensibilidade fotográfica são dele.

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