24.7.08
Sem-título (Cigarro com mão na porta)
É a mão que segura o cigarro ou o cigarro que segura a mão?
Sobre uma porta que se abre ou se fecha para um espaço ou um tempo (in)certos, o que resta de um vulto, aparecendo ou desaparecendo, numa Outra Cena, suspensa, é um pedaço fragmentado do corpo.
O que resta do corpo vivo, na era da ciência, são apenas fragmentos, pedaços.
São os dedos de um homem ou de uma mulher que seguram o cigarro - um objecto entre os demais - ou é este que os segura, descrevendo, em cinza e fumo, o seu destino de homens e mulheres sem qualidades?
É como se a mão, que resta, na era da tecnologia, não quisesse abrir mão do cigarro, ao menos do cigarro, ainda que digam que mata o corpo e corrói a alma.
Mas é a mão que segura o cigarro, ou este, com mão na porta, que segura a mão?
O fotógrafo não diz e a imagem não fala. Apenas des-vela, no sentido em que mostra e oculta ao mesmo tempo, o real de que se trata.
Agradecimento especial ao fotógrafo Manuel Silva.
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