16.7.08
O prazer da releitura
O prazer da leitura não é para todos. Em Portugal, por exemplo - a ter fé nas estatísticas - é cada vez mais para menos pessoas. Lê-se pouco e com desprazer.
No entanto, há ainda quem se reveja nesta afirmação de Marcel Proust: "Não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar sem tê-los vivido, aqueles que passámos com um livro preferido." (Marcel Proust, Journées de Lecture). Como eu entendo este "prazer divino" de que fala Marcel Proust!
Não sei, todavia, se o "prazer" dá inteiramente conta daquilo que nos prende aos livros. Há livros que nos agarram como uma espécie de doença, como um desprazer, sem que por isso os larguemos. Eles tornam-se parte de nós, a parte mais íntima e estranha ao mesmo tempo, como um sintoma de que não queremos curar-nos.
Na verdade, também eu leio cada vez menos livros. Ao mesmo tempo, releio cada vez mais. A releitura é não só um prazer redobrado, como a possibilidade de explorar recantos que permaneceram na sombra numa primeira leitura. Deixar-se agarrar de novo por um livro de onde já não esperávamos novidade, pode ter efeitos surpreendentes.
Uma das surpresas mais agradáveis que tive ultimamente foi um livro de Freud, que eu já não lia há vários anos: o Mal-Estar na Civilização (Relógio D'Água). É um livro de 1930. Da pré-história, pensamos.
Pois bem: quando abrimos o livro e começamos a ler, somos tomados de uma satisfação (é a palavra certa, mais do que prazer) por ver que a inteligência e a acuidade de análise por parte de Freud, não só não perderam actualidade, como mantêm a mesma frescura dos primeiros dias.
É um livro que poderia ter acabado de nascer!
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