23.7.08

Ilha das Flores

Onde se prova, por A mais B, que Deus não existe!

3 comentários:

AMCD disse...

Vi o filme e não gostei. Para dizer a verdade senti-me enojado, agoniado... Choca-me a exploração gratuita das imagens, das situações, da miséria humana, com o intuito deliberado de nos impressionar. É uma tentativa de manipulação de consciências.

O desrespeito pelas imagens, a banalização da miséria, da pobreza e da morte torna-nos estranhamente imunes, de alguma forma. Ainda assim é impressionante ver num relance, em fracções de segundo, os corpos dos mortos dos campos de concentração a serem amontoados por um bulldozer, como se fossem apenas coisas (coisificação do homem?) – foi isso que mais me enojou.

Quanto à pretensão de provar que Deus não existe, julgo que o filma nada prova, pois poderia também provar que Deus existe mas não se importa, ou que não actua como um justiceiro, ou quanto muito que Deus existe mas é perverso, ou ainda, que Deus existe mas o seu reino não é deste mundo, etc. Aliás é curioso que tragam Deus à liça. Continuamos à procura de um bode expiatório para carregar com a culpa dos nossos actos. Será desresponsabilização da nossa parte? Terá de haver sempre um Pai vigilante que previna a nossa queda e quando caímos a culpa é dele porque não vigiou o suficiente? O filme podia ter sido realizado sem esse pressuposto, ou seja, nem sequer aludir à prova da existência ou inexistência de Deus, pois em relação a esta questão a dúvida prevalecerá. Já em relação à existência do Homem, a questão não se coloca. O Homem existe e é lobo de si mesmo.

É portanto o Homem que tem de assumir a responsabilidade dos seus actos. Mas às vezes ouvimos gritar mais alto dentro de nós a abjecção sentida por Primo Levi: "Si c’est un homme?"

Saudações

AMCD

Paula C. disse...

Vi o filme e gostei. Sem dúvida que a banalização das imagens nos torna imunes e já não impressiona ver imagens do holocausto. O que mete nojo é sermos contemporâneos da realidade d'A Ilha das Flores. O que mete nojo é,a (des)propósito dela,envolvermo-nos em gastas discussões académicas sobre a existência de deus. Esse, "foi por não ser existindo/ sem existir nos bastou/...".
Prosaicamente pensemos que aquele poderá ser o nosso futuro, aqui à beira-mar plantados, porque os ANIMAIS SÃO TODOS IGUAIS MAS OS PORCOS SÃO MAIS IGUAIS.
Este é o admirável mundo novo!
Gostei de ver este filme no teu blogue, Filipe.

Filipe Pereirinha disse...

Deus, como diria o "ateu" Saramago, existirá enquanto existir a linguagem; não se trata, por isso, de mais uma discussão metafísica em torno da (in)existência de Deus. Ele é apenas, aqui, um pre-texto para interrogar a condição humana, a nossa condição, no que esta se aproxima, por vezes, de algo demasiado "humano", "desumano" ou mesmo "inumano". Por outro lado, se é verdade que as imagens cada vez mais banalizam o mal, também é certo que, por vezes, o podem revelar na sua crueza mais "real", mais crua. Parece-me ser o caso.