10.7.08

O mito de Sísifo

Sob a aparente diferença entre a direita e a esquerda, há hoje, em Portugal, um significante-mestre ou uma palavra-de-ordem que faz elo entre ambas:sacrifício. Pede-se aos portugueses sacrifício para enfrentar as dificuldades que aí vêm ou que já estão aí.

Sacrificar uma coisa por outra, um bem por outro, faz parte integrante da própria lógica da escolha: o que quer que se escolha, há sempre algo que se perde, que se sacrifica.

O que acontece, porém, quando o sacrifício é vão ou há uma espécie de sacrifício pelo sacrifício? Quando este já não é um meio para atingir um fim, mas um fim em si mesmo, uma finalidade sem fim?

Após anos de sacrifício, para, supostamente, controlar o défice ou acertar as contas públicas - em particular desde que este governo tomou posse -, os portugueses começam a sentir que tudo foi em vão. Graças a uma conjuntura internacionalmente desfavorável, o produto do esforço, do sacrifício elevado até ao cume, resvala por aí abaixo, sem dó nem piedade.

O que prometem os novos políticos que se afiguram já no horizonte? Sacrifício, mais sacrifício. Seria bom que lessem, durante as férias, O Mito de Sísifo. O mito tem o poder de revelar a verdade, ainda que se trate de uma ficção.

1 comentário:

Fernando Borges de Moraes disse...

Parece-me um discurso perverso...