Do lado da Filosofia, por exemplo, após um breve período de algum "namoro", fascínio ou, nalguns, encantamento em relação à coisa psicanalítica, foi o silêncio quase absoluto. Salvam-se, aqui e além, breves - e geralmente sarcásticas - anotações.
Do lado da psicanálise, a grande preocupação parece ter sido, quase sempre, a de demarcar-se da filosofia: aquilo que nós, os psicanalistas, fazemos, não é uma visão do mundo, nem uma filosofia, nem nada que se pareça.
Tudo isto é justo. Há que pôr os pontos nos is e marcar as diferenças.
Contudo, como sublinhava há algum tempo uma psicanalista, Marie-Hélène Brousse, num artigo dedicado precisamente a um filósofo, Descartes, importa talvez rever a questão da psicanálise e da filosofia, na justa medida em que se considere que a psicanálise não é "toda" terapêutica e que uma experiência analítica levada até ao seu termo diz mais respeito à ética ("Variations sur le cogito", in Des philosophes à l'envers. Horizon. Nº Hors-Série. Janeiro 2005).
Slavoj Zizek, simultaneamente filósofo e psicanalista, tem dado corpo, à sua maneira - e de forma singular - a esta "revisão".
É por esta e outras razões que é de saudar a publicação, pela Relógio de Água, de mais dois livros seus.
2 comentários:
Está bom Filipe?
O Zizek é, sem dúvida, uma personagem intrigante e deveras interessante.
Sinceramente, não sei se ele será psicanalista, apesar de o considerarem como tal, ele próprio numa entrevista que deu em 2003 afirmou que não era psicanalista. Não sei hoje se ele se "autoriza" a ser psicanalista, apesar de os "media" o autorizarem.
É-me difícil ver, penso que não é muito claro, que ele procure uma complementaridade entre a filosofia e a psicanálise. Penso que ele vai articulando e produzindo um discurso muito singular a partir desse hiato onde ambas se desencontram.
Talvez esse seja o lugar onde ele, sujeito divido (diria eu, entre a psicanálise e a filosofia), faz qualquer coisa, de inovador, com a sua própria divisão.
Começei a ler a sua tese de mestrado. Muito interessante na forma como (também) pegou nesse lugar onde a filosofia e a psicanálise encontram-se num des-encontro. Logo que terminar lhe darei a minha opinião.
Igor
No prefácio à tradução de alguns textos de Zizek, Alain Abelhauser escrevia o seguinte em 1999: "(...) por isso se demonstra todo o respeito que o autor tem pela psicanálise - a ponto de não poder decidir-se a exercê-la, senão no plano da crítica filosófica e política."("Subversions du Sujet - Psychanalyse, Philosophie et Politique": Presses Universitaires de Rennes, 1999). Há aqui qualquer coisa de "ético"... penso eu de que!
F.P.
Enviar um comentário