De entre esses acontecimentos, li algo que me chamou a atenção pelo carácter mais ou menos recorrente do mesmo: já o tinha visto escrito algures, mais do que uma vez.
Trata-se de um certo elogio feito às mulheres e, em particular, às mulheres portuguesas que - dizendo as coisas friamente e de forma sucinta - se matam a trabalhar pelos homens e pelos filhos, tanto fora como dentro de casa. É a isso que Mário Crespo, e outros homens, chamam o "milagre" das mulheres portuguesas.
Fica bem este elogio das mulheres (recebi inclusivamente um e-mail de uma mulher que me dizia que se os homens pensassem deste modo, haveria menos divórcios).
Mas eu pergunto: quem agradece mais este elogio? As mulheres ou os homens (portugueses)? Quem retira dele uma maior satisfação: as mulheres porque vêem o trabalho reconhecido ou os homens a quem interessa manter, sem questionar, o statu quo, o estado em que as coisas estão?
Ao reconhecer o "milagre" das mulheres (continuando a reduzi-las, sem dúvida, a uma certa posição "maternal", de abnegação, etc.) não são os homens (portugueses) que ficamos a conhecer melhor?
Vem ao caso dizer, parafraseando Lacan, que também aqui o sujeito (masculino) recebe do Outro (de quem faz o elogio) a sua própia mensagem sob forma invertida.
Sem comentários:
Enviar um comentário