26.1.07

Lost In Translation

Mesmo se o filme de Sofia Coppola alude a várias dificuldades de "tradução" e não apenas a linguística (os protagonistas americanos, Bob Harris e Charlotte, que têm dificuldade em comunicar com os respectivos parceiros, acabam por se des-encontrar num "lugar estranho" - Tóquio - onde a dificuldade de entender o "japonês" apenas reflecte e encarna essa primeira dificuldade), ele poderia servir de mote para uma reflexão, cada vez mais actual e urgente, sobre as línguas da Europa.

São já mais de vinte e tenderão a aumentar com a entrada progressiva de novos membros para a Comunidade Europeia. Cada novo membro contribui um pouco mais para a "babelização" da Europa. As despesas de tradução constituem já 1% do Orçamento Comunitário.

Mais cedo ou mais tarde, o problema económico-financeiro que uma tal despesa representa vai, com certeza, aumentar o sintoma e provocar a crítica. A tentação de adoptar (ou impor) uma língua única será grande. É já grande, aliás. Do ponto de vista económico, as "línguas" são um desperdício.

Do ponto de vista cultural, elas são uma "riqueza": uma das poucas que restam à Europa. Mas que importa ao "discurso da ciência" ou à "globalização económica" (neste aspecto irmanados) uma tal riqueza? É um mero gozo, inútil, que não serve para nada.

Porém, tal como mostra o filme da Sofia Coppola, a dificuldade de comunicar não resulta principalmente de uns e outros (um sexo e outro, por exemplo) falarem línguas diferentes, mas antes de não se entenderem... na mesma língua.

Isto porque uma língua, qualquer que ela seja, é feita principalmente de equívocos, de mal-entendidos. É disso que padecemos. É isso que faz com que o amor seja, ao mesmo tempo, um "lugar estranho" e familiar.

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