5.1.11

Theatro estático

Num mundo acelerado, há ainda coisas que permanecem obstinadamente lentas: ler certos autores "difíceis", fazer uma análise, escrever... Talvez a lentidão não seja a palavra certa: elas têm o seu ritmo, a sua velocidade própria. Acontece apenas que a velocidade relativa das coisas do mundo nem sempre obedece ao mesmo compasso.

Daí que o escritor M. Tavares, por exemplo, tenha dito há algum tempo, numa entrevista, que seria preciso ensinar o tédio nas escolas.

O tédio é a sensação de que nada se passa, nada está a acontecer, quando tudo, no mundo, promete ou convida ao acontecimento. Um teatro estático, como diria Pessoa.

É por isso que vale a pena ler "O Marinheiro" (agora em nova versão da Ática e com introdução, estabelecimento do texto e notas da minha amiga Cláudia F. Souza: uma apaixonada incondicional do poeta dos heterónimos).

Pessoa demonstra, aí, que a lentidão ou a imobilidade dos corpos pode atiçar a velocidade do sonho e sei lá que mais. Há "teatros estáticos" que são autênticos viveiros de acontecimentos. Ler para crer!

1 comentário:

Anónimo disse...

Filipe, como sempre o seu texto está perfeito. Concordo com com tudo que disse a respeito de "O Marinheiro". Eu me sinto duplamente honrada: por ter editado o texto do Pessoa e pelo seu comentário sobre ele.
Cláudia.