Num mundo acelerado, há ainda coisas que permanecem obstinadamente lentas: ler certos autores "difíceis", fazer uma análise, escrever... Talvez a lentidão não seja a palavra certa: elas têm o seu ritmo, a sua velocidade própria. Acontece apenas que a velocidade relativa das coisas do mundo nem sempre obedece ao mesmo compasso.
Daí que o escritor M. Tavares, por exemplo, tenha dito há algum tempo, numa entrevista, que seria preciso ensinar o tédio nas escolas.
O tédio é a sensação de que nada se passa, nada está a acontecer, quando tudo, no mundo, promete ou convida ao acontecimento. Um teatro estático, como diria Pessoa.
É por isso que vale a pena ler "O Marinheiro" (agora em nova versão da Ática e com introdução, estabelecimento do texto e notas da minha amiga Cláudia F. Souza: uma apaixonada incondicional do poeta dos heterónimos).
Pessoa demonstra, aí, que a lentidão ou a imobilidade dos corpos pode atiçar a velocidade do sonho e sei lá que mais. Há "teatros estáticos" que são autênticos viveiros de acontecimentos. Ler para crer!
1 comentário:
Filipe, como sempre o seu texto está perfeito. Concordo com com tudo que disse a respeito de "O Marinheiro". Eu me sinto duplamente honrada: por ter editado o texto do Pessoa e pelo seu comentário sobre ele.
Cláudia.
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