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Um dos muitos paradoxos que enxameiam o nosso tempo tem a ver com a família: ao mesmo tempo que não cessamos de passar-lhe uma certidão de óbito – e é verdade que ela se decompõe e afunda cada vez mais – assistimos igualmente, o que não deixa de ser estranho, a uma crescente reivindicação por parte de muitos homossexuais a poder casar e “ter” filhos, ou seja – não consigo, de momento, encontrar outro nome – a constituir “família”.
Não importa se esta família é bizarra aos olhos da tradição, se dá que pensar ou causa polémica. O desejo que a habita é ainda “familiar”, queira-se ou não.
Talvez porque a família tenha sido, historicamente, uma poderosa e inventiva solução para os problemas que o real nos coloca. Tão poderosa e inventiva que ainda não perdeu, por completo, o seu poder de atracção.
Veja-se, a título de exemplo, o que resta do Natal depois que os deuses debandaram: a festa da “família”.
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