10.12.05

@ coisa sexual


MAGRITTE, R., A Filosofia no Quarto de Dormir, 1966

Dizia Lacan, numa conferência que deu em 1967, que há qualquer coisa que mudou, desde Freud, no que toca à sexualidade: esta tornou-se bastante “mais pública”*.

No que a nós, portugueses, diz respeito, mostra-se e fala-se disso como nunca. Programa televisivo que não tenha, de forma mais ou menos explícita, uma componente sexual, parece fora de moda.

A TVI tem dado cartas nesta matéria. A sua última jogada chama-se “AB…Sexo”, que é como quem diz: um contributo “sexológico” para tirar os portugueses da “iliteracia” sexual, ensinando-lhes o respectivo alfabeto do prazer.

No momento em que se continua a discutir a introdução nas escolas de uma disciplina de Educação Sexual, a TVI antecipa-se na educação sexual dos portugueses. Tudo ali parece ter solução. Se disfunciona, faz-se funcionar: por meio de um conselho psicológico, de uma técnica “erótica”, de uma prótese ou de um fármaco.

A cada um o seu quinhão de gozo!

O problema – um dos problemas – é que no ser humano, bicho estranho, o gozo emaranha-se no desejo, o desejo no gozo, embaraçando-se mutuamente. Como dizia uma convidada da última semana, muitas vezes os problemas nascem do outro, de o nosso desejo está enganchado no desejo do Outro. É aí que a prótese inconsciente, que na espécie humana supre a ausência de instinto, começa a fazer das suas. Para mal ou bem dos nossos pecados.

*LACAN, Jacques., “Place, origine et fin de mon enseignement”, in Mon enseignement. Paris : Seuil, 2005, p. 28.

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