É inimaginável pensar que estas cabeças não estejam todas doentes, de uma qualquer doença do foro neurológico ou outro. Mas é muito mais inquietante admitir que isto pode não ser obra da doença e ser levado a cabo em "perfeita" lucidez.
O intelectualismo de Sócrates (de que ainda somos herdeiros) fazia-o acreditar que a prática do mal se devia à ignorância do bem. Que dizer quando o bem parece coincidir com a escolha do mal, como demonstra a prática terrorista mais bárbara e selvagem dos últimos tempos?
É inimaginável pensar que o "monstro", causador de tudo isto, tenha estado (e continue) entre nós, quando todos os olhares e medidas de segurança estavam voltadas para fora, para longe. Mas sabe-se agora - para assombro de todos - que, afinal, os autores dos atentados são "britânicos", de origem paquistanesa.
Na verdade, eles são difíceis de encontrar e combater porque o seu lugar, a sua morada é em grande medida "atópica", insituável, sem-lugar certo e definido. Não é que eles estejam cá dentro ou lá fora, segundo uma "topologia" simplista, mas estão, ao mesmo tempo, cá dentro e lá fora. A "Al Qaeda" é como Deus: ao mesmo tempo em toda a parte e em lugar nehum. É Deus ao contrário. Uma per-versão (ou, como diria Lacan, uma père-version) de Deus, em particular de um dos seus nomes: Alá. É esta a confusão que se estabelece: visto que eles usam o nome-de-Alá e do Islão, parece que é em nome de Alá e dos Islão que eles actuam. É mais inquietante (e menos sagrado) pensar que o nome de Deus e da religião não passam de uma máscara para disfarçar ou encobrir o "ódio" pelo ser e a "satisfação" demoníaca que estão na base de tais actos.
É inimaginável pensar, para muita boa gente, bem intencionada (veja-se o caso do insupeito Mário Soares) que a causa de tamanha loucura não seja a pobreza e a marginalidade. Sabe-se agora, porém, que os autores dos atentados de Londres estavam (ou pareciam) bem integrados na comunidade e bem com a vida. Daí o choque para aqueles que os conheceram de perto.
Se é verdade, como dizia Leibniz, que tudo tem a sua razão, então há que admitir, neste e noutros casos, que a razão é...louca. O terrorista apenas leva mais longe, expondo "a céu aberto", o que os demais "guardam" e refreiam no sonho e no pesadelo. Eles passam ao acto o que a nós, outros, nem parece passar-nos pela cabeça...
E se, por hipótese hiperbólica, fôssemos todos "terroristas" frustrados?
Inquietante, só de pensá-lo.
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