Diz o "bom senso" vigente que é preciso eliminar o supérfluo e o desperdício, o que não serve para satisfazer necessidades e interesses imediatos. É, no mínimo, curioso, pois o "discurso do capitalismo", também vigente e cada vez mais forte e selvagem, não cessa de produzir lixo, detritos, desperdício, apelos ao consumo imoderado, sem limites.
O que seria de nós sem o luxo do desejo: essa "inutilidade" que nos faz correr?
Faz-se crer, no tempo de indigência e aperto em que vivemos, que só é "desejável" o que é estritamente "necessário" à sobrevivência e tudo o resto é "inútil". Porém, como dizia, B. Gracián na sua Arte da Prudência "se não existe nada para desejar, teme-se tudo: felicidade infeliz. Onde termina o desejo começa o temor."
Talvez por isso o "clima de insegurança" não pára de crescer, e não apenas onde há razões "objectivas" para tal. É a "doença do desejo".
Só a certeza de que o desejo é "impossível" de satisfazer por qualquer objecto da necessidade nos pode resgatar da "felicidade infeliz" que promete o "discurso capitalista", com pompa e circunstância, na era da "globalização".
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