27.7.05

O fio quebrado


Clyfford Still, Pintura, 1944

A banalidade do mal

No último número do Courrier Internacional (22 a 28 de Julho de 2005), José Gil, na crónica intitulada "O fio quebrado", faz uma estranha e inusitada comparação entre o terrorismo islâmico (pelo menos numa das suas componentes) e o nazismo enquanto "programa sistemático de destruição". Em ambos os casos, o "laço" que liga, que aproxima um homem a outro homem foi quebrado; ao mesmo tempo, segundo o que agora se sabe a partir das descrições que foram feitas pelos que os conheceram, os terroristas de Londres assemelham-se bastante aos oficiais alemães dos campos de concentração: bons cidadãos, amigos do próximo, vizinhos simpáticos e sorridentes. Gente comum e banal, portanto, que, ao mesmo tempo, não hesita em matar dezenas ou milhares de inocentes sem pestanejar, com a maior frieza e insensibilidade do mundo.

Estando quebrado o fio, desatado o "laço social" (Lacan) que liga uns aos outros, também a ética é pervertida: em vez do princípio utilitarista que exige o maior bem para o maior número (Bentham, Mill), passa a praticar-se o maior mal possível para o maior número. É a "lógica" implacável do ódio passado ao acto.

Mas, voltando à comparação inicial entre certas componentes do terrorismo e do nazismo, eu gostava de realçar uma diferença entre os dois: no caso do nazismo, tratou-se de uma eliminação sem deixar rasto, sem inscrição simbólica e imaginária, como se nada tivesse acontecido e fosse, por isso, impensável. Daí a dificuldade, durante muito tempo, de pensar "isso"...que aconteceu, bem como a pergunta subjacente: como foi possível tamanha coisa? . Pelo contrário, os actos terroristas procuram o máximo de visibilidade e de ostentação do mal. São efeitos "espectaculares" o que se visa. Eis uma das facetas mais sombrias da "mediatização" e da "sociedade do espectáculo" em que vivemos.

22.7.05

Todos inválidos

O nome engana: o "capital" (caput, capitis) é acéfalo, sem cabeça, reproduzindo-se indefinidamente como um animal bizarro.

É um "imperativo cego", inconsciente, que obriga a trabalhar sem descanso para nada mais que a re-produção ela mesma.

O lucro, de um lado, para alimentar a máquina; do outro, a eliminação dos gastos, do supérfluo, do que não serve para nada, a não ser gozar - como se a máquina, não fosse, ela mesma, um "aparelho de gozo"!

Paradoxalmente, o supérfluo, o detrito, o desemprego, a massa dos que não servem para re-produzir, os inúteis, os inválidos, os que não têm valor, etc. não pára de crescer. É o que a máquina acéfala produz e re-produz sem parar: exclusão sob todas as formas.

Um novo slogan revolucionário poderia ter esta fórmula: inúteis de todo o mundo, uni-vos! Só que a revolução é o que fazem os astros que voltam sempre ao ponto de partida.

Do ponto de vista do "capital" (acéfalo), somos todos inúteis, todos inválidos. É uma questão de tempo.

Para que serve?


Ben Vautier, A Arte é Inútil, Vão para Casa, 1971

20.7.05

Felicidade infeliz

Diz o "bom senso" vigente que é preciso eliminar o supérfluo e o desperdício, o que não serve para satisfazer necessidades e interesses imediatos. É, no mínimo, curioso, pois o "discurso do capitalismo", também vigente e cada vez mais forte e selvagem, não cessa de produzir lixo, detritos, desperdício, apelos ao consumo imoderado, sem limites.

O que seria de nós sem o luxo do desejo: essa "inutilidade" que nos faz correr?

Faz-se crer, no tempo de indigência e aperto em que vivemos, que só é "desejável" o que é estritamente "necessário" à sobrevivência e tudo o resto é "inútil". Porém, como dizia, B. Gracián na sua Arte da Prudência "se não existe nada para desejar, teme-se tudo: felicidade infeliz. Onde termina o desejo começa o temor."

Talvez por isso o "clima de insegurança" não pára de crescer, e não apenas onde há razões "objectivas" para tal. É a "doença do desejo".

Só a certeza de que o desejo é "impossível" de satisfazer por qualquer objecto da necessidade nos pode resgatar da "felicidade infeliz" que promete o "discurso capitalista", com pompa e circunstância, na era da "globalização".

19.7.05

Mulher sem qualidades

No seu Homem Sem Qualidades, Robert Musil mostra como Ulrich, o herói do romance, perdeu as qualidades no dia em que se deixou fascinar pela matemática, mãe da ciência natural exacta e a avó da técnica, mas também a antepassada da mentalidade que acabou por suscitar os gases tóxicos e os pilotos de guerra. Trata-se de uma metáfora que assinala a progressiva substituição, a partir de Galiléu, da qualidade pela quantidade.

Poderíamos pensar que os portugueses em geral (vejam-se os maus resultados persistentes na disciplina de matemática) se têm furtado a este reino da quantidade e da abstracção. Talvez seja verdade. Mas há agora uma mulher, que por sinal é ministra da educação, que tem feito tudo o que está ao seu alcance, e até - dizem alguns - o que não está para mudar o panorama e fazer entrar definitivamente os portugueses na era do "homem sem qualidades", isto é, no reino da objectividade e do número, não fosse ela da área de "estatística".

Para ela, cheia de empenho, vontade e coragem (afinal, qualidades "não quantificáveis"), não existem sujeitos ou casos singulares, mas tão só a média estatística erigida em norma: quanto podemos poupar ou ganhar com esta ou aquela medida. Os professores portugueses sabem do que eu falo.

Com isto - perguntamos nós, perguntava-se Musil, o que aconteceu à alma? Resposta: "é muito exactamente o que se retrai quando se ouve falar em séries algébricas".

Um homem sem alma é o que chamamos vulgarmente "desanimado", sem ânimo, isto é, sem desejo para "progredir".

Dou um exemplo: Um amigo meu, professor há vários anos, empenhado, tendo feito mestrado à sua custa (sacrificando fins de semana, por exemplo) preparava-se agora para iniciar o doutoramento, tendo pedido para esse efeito uma "equiparação a bolseiro". Esta não lhe foi concedida e ele, desesperado, dizia não saber se tinha capacidade para continuar, pois, com as novas regras de jogo que a ministra introduziu, obrigando os professores a passar mais tempo na escola, ia ficar sem tempo para investigar. E mais vale, segundo ele, não fazer uma coisa do que fazê-la mal feita, mesmo se esta é a regra comum. Procurei dar-lhe ânimo, um "suplemento de alma"..., mas não deixei, também eu, de pensar que já começou...

A "era da estupidificação" geral. E o que é mais grave é que tem agora o patrocínio, o selo e a garantia da ciência mais exacta e da política mais "decidida".

17.7.05

Emoção ou razão?

António Damásio (O Erro de Descartes; O Sentimento de Si; Ao Encontro de Espinosa) poderia dizer que os bombistas suicidas são uma prova "morta" (já que não posso dizer viva) de que a razão sem emoção é uma razão fria, doente. Admitindo que eles terão as suas "razões" para fazer o que fazem...

Os britânicos, por seu lado, são agora admirados em todo o mundo por terem mantido a cabeça "fria", não cedendo à emoção, ainda que tivessem razões para isso.

Em ambos os casos, é preciso muita "frieza" e determinação, mas o sentido (ético) do acto em causa está longe de ser o mesmo.

16.7.05

A inumanidade do humano

Podemos ser tentados a pensar que é a porção animal do homem (também racional, segundo a definição consagrada) que triunfa nos actos bárbaros e "animalescos" a que temos assistido nos últimos tempos.

Ilusão! Os animais guiam-se pelo "instinto", aqui é a "pulsão", para além do instinto, do prazer e da homeostasia, o que triunfa.

A "pulsão de morte", entenda-se. Ou já nos esquecemos do nome que Freud inventou por volta de 1920?

15.7.05

O que irá naquelas cabeças?


Philip Guston, Cabeça, 1975

Aceitam-se sugestões...

Inimaginável

É inimaginável pensar que estas cabeças não estejam todas doentes, de uma qualquer doença do foro neurológico ou outro. Mas é muito mais inquietante admitir que isto pode não ser obra da doença e ser levado a cabo em "perfeita" lucidez.

O intelectualismo de Sócrates (de que ainda somos herdeiros) fazia-o acreditar que a prática do mal se devia à ignorância do bem. Que dizer quando o bem parece coincidir com a escolha do mal, como demonstra a prática terrorista mais bárbara e selvagem dos últimos tempos?

É inimaginável pensar que o "monstro", causador de tudo isto, tenha estado (e continue) entre nós, quando todos os olhares e medidas de segurança estavam voltadas para fora, para longe. Mas sabe-se agora - para assombro de todos - que, afinal, os autores dos atentados são "britânicos", de origem paquistanesa.

Na verdade, eles são difíceis de encontrar e combater porque o seu lugar, a sua morada é em grande medida "atópica", insituável, sem-lugar certo e definido. Não é que eles estejam cá dentro ou lá fora, segundo uma "topologia" simplista, mas estão, ao mesmo tempo, cá dentro e lá fora. A "Al Qaeda" é como Deus: ao mesmo tempo em toda a parte e em lugar nehum. É Deus ao contrário. Uma per-versão (ou, como diria Lacan, uma père-version) de Deus, em particular de um dos seus nomes: Alá. É esta a confusão que se estabelece: visto que eles usam o nome-de-Alá e do Islão, parece que é em nome de Alá e dos Islão que eles actuam. É mais inquietante (e menos sagrado) pensar que o nome de Deus e da religião não passam de uma máscara para disfarçar ou encobrir o "ódio" pelo ser e a "satisfação" demoníaca que estão na base de tais actos.

É inimaginável pensar, para muita boa gente, bem intencionada (veja-se o caso do insupeito Mário Soares) que a causa de tamanha loucura não seja a pobreza e a marginalidade. Sabe-se agora, porém, que os autores dos atentados de Londres estavam (ou pareciam) bem integrados na comunidade e bem com a vida. Daí o choque para aqueles que os conheceram de perto.

Se é verdade, como dizia Leibniz, que tudo tem a sua razão, então há que admitir, neste e noutros casos, que a razão é...louca. O terrorista apenas leva mais longe, expondo "a céu aberto", o que os demais "guardam" e refreiam no sonho e no pesadelo. Eles passam ao acto o que a nós, outros, nem parece passar-nos pela cabeça...

E se, por hipótese hiperbólica, fôssemos todos "terroristas" frustrados?

Inquietante, só de pensá-lo.

13.7.05

Os novos "senhores"

A diferença entre o Senhor e o Escravo (segundo Hegel) é que o Senhor não tem medo de morrer. O Escravo aliena parte da sua liberdade para viver. Já há quem defenda, na sequência dos atentados dos últimos tempos, que teremos de "alienar" uma percela da nossa liberdade em troca de mais segurança.

Serão os terroristas os novos "senhores" do mundo, na medida em que parecem também não ter medo de morrer, e nós, paralisados pelo medo, os novos "escravos"?

12.7.05

Difíceis amores

Moderado pela jornalista Leonor Ferreira e com a participação de Júlio machado Vaz e Gabriela Moita, "Estes Difíceis Amores" é um programa interessante a vários títulos.

As diferentes emissões, tal como sugerido pelo nome do programa, giram em torno da dificuldade do amor e da multiplicidade das formas de amar ou deixar de amar.

Fico sempre a perguntar-me: porque são tão "difíceis" os amores?

Dou uma resposta: porque entre um homem e uma mulher, um homem e outro homem, uma mulher e outra mulher... não há "proporção" sexual, programa ou instinto que indique o "parceiro" certo. É a contingência e não a necessidade "natural" que determina os bons ou os maus encontros. A condição de ser falado e falante "desnaturaliza" irremediavelmente o ser humano. A sexualidade nos animais parece bem mais simples. A não ser, talvez, em alguns animais d'homesticos...

Lacan costumava dizer, na sua "alíngua": Il n'y a pas de rapport sexuel.

9.7.05

A droga da confiança

Tem-se vivido em Portugal (e não só) nos últimos tempos uma "crise de confiança". Os investidores não investem porque desconfiam do futuro; os consumidores não consomem porque desconfiam do presente; uns e outros desconfiam disto e daquilo. Se ao menos houvesse, pensamos nós, pensa o presidente, uma "droga da confiança"...

E é que há mesmo!

Segundo um artigo de António Damásio na revista Nature (cf. Courrier Internacional, 8 a 14 de Julho de 2005, p. 44), a "ocitocina" (de acordo com um estudo levado a cabo por Michael Kosfeld e seus colaboradores do instituto de investigações empíricas de economia da Universidade de Zurique) a ocitocina tem um papel importante nas manifestações de confiança no homem.

Uma dúvida legítima que poderia surgir a partir daqui é se os partidos políticos não se verão tentados a aspergir a multidão com ocitocina nos comícios dos seus candidatos. É uma dúvida formulada pelo próprio Damásio.

Mas pensemos bem: não é verdade que isso já aconteceu? O próprio Damásio reconhece que as técnicas de "marketing" actuais produzem uma secreção natural de moléculas, como a ocitocina, em reacção a estímulos adaptados. Ora, pensemos bem, qual é o estímulo utilizado por todos os políticos, sem excepção, nas últimas campanhas eleitorais? A "fala vazia". A fala que tudo promete durante a campanha eleitoral - levando à segregação da molécula da confiança - para depois tudo retirar. Daí que, defraudadas nas suas expectativas, as pessoas se sintam, com razão, desconfiadas. Porque haveriam de confiar?

A confiança é algo que se ganha ou se perde, aumenta ou diminui, na convivência social. Não é uma coisa que exista por si mesma, independentemente das circunstâncias, da experiência. A não ser que andemos sempre "drogados" de confiança; mas isso também tem o seu preço.

Já agora: porque é que há sempre tendência nestas investigações científicas (neurobiológicas) de esquecer que o homem não é só um animal como os outros, mas também um ser "de palavra". Um ser que dá a sua palavra, que arrisca ou compromete a sua palavra. Dizemos de alguém que merece confiança: é um homem de palavra. Se vivemos num mundo em que a palavra (do Outro) é cada vez mais esvaziada de substância, não terá isso algo a ver - a par, para além ou para aquém da "ocitocina" - com a crise de confiança que atravessamos?

8.7.05

Extra-terrestres


Tom Cruise: um extra-terrestre?

Tom Cruise não é só um talentoso actor de cinema; é também "porta voz da Cientologia" (Courrier Internacional, nº 14, 8 a 14 de Julho de 2005). Parece que ocupa, nesta igreja, um "grau" cada vez mais elevado, segundo a hieraquia da mesma. Nos graus mais elevados, "o cientologista adquire supostamente a faculdade de dominar o seu universo." Por aqui se depreende o "discurso do amo", da mestria que sustenta esta "igreja". Nada de novo debaixo do sol: mudam-se os deuses, os nomes-do-senhor, mas o "discurso" é o mesmo.

Segundo a cosmologia cientologista, os seres humanos transportam as marcas de uma civilização extra-terrestre trazida à terra por um senhor da guerra intergaláctica há vários milhões de anos (Ron Hubbard).

Não deixa de ser interessante esta concepção cosmológica. Interessante porque repetitiva. Há aqui algo de déjà-vu, americano, demasiado americano. Com efeito, não são apenas igrejas como esta, mas igualmente a quantidade assombrosa de programas "americanos" sobre extra-terrestres, em que abundam relatos (reais ou fictícios) sobre "raptos" por extra-terrestres... Dá que pensar!

Talvez a explicação seja mais simples do que pensamos. Isto não quer dizer que seja menos "inconsciente".

Um dos traços que definem a história americana é a expressão "de fora" (extra). Aplica-se a alguém que vem de fora, que é de fora, que não é cá da terra. A América, tal como a conhecemos, foi construída pelos que vieram "de fora" (nomeadamente da Europa), relegando os indígenas cada vez mais para "fora", dentro do seu próprio território e, por fim, eliminando-os ou anexando-os por completo. A América assenta neste duplo "fora" (interno e externo) e nesta dupla "exclusão".

Com a globalização, cresce cada vez mais o sentimento de que, para onde quer que olhem, os americanos encontram apenas o seu reflexo especular. É por isso que têm, de vez em quando, de inventar um "outro" que possam guerrear, um outro que não é lá da terra, que é "de fora". Quando isso não basta, quando o mundo todo parece "a América", então é preciso alguém ou algo "radicalmente de fora" (extra-terrestre) para dar corpo a isso que que todo o americano que veio "de fora" esqueceu, recalcou ou "precluiu". Na impossibilidade de "inscrever" adequadamente este "fora" na sua história, os americanos (é uma generalização, evidentemente) parecem condenados a ser "abduzidos" por ele, sob as mais diversas e estranhas figuras.

Eros ou Thanatos

Uma guerra é desigual quando uma das partes não respeita as regras do "jogo". Parece ser o caso da "guerra" que se trava contra os "terroristas". Aqueles que estão dispostos a morrer e a matar indiscriminadamente não querem propriamente jogar o jogo, antes minar o tabuleiro onde este se desenrola. E não tenhamos dúvidas: o que se visa é minar as "luzes" (Aufklärung) que têm brilhado, mal ou bem, sobre o "ocidente" nos últimos séculos.

Dizia ontem alguém, na televisão (lembro-me de António Vitorino, mas havia outros) que esta guerra só pode vencer-se com "legitimidade moral". Mas como avaliar, medir a "legitimidade moral"?

Não é, com certeza, a legitimidade de "Bush", que esse, ao invadir o Iraque baseado numa mentira, começou mal. Também não é - contrariamente à opinião iluminada de muitos bem-pensantes - a legitmidade dos "pobres". Dizer que estes ataques terroristas se devem às condições de miséria e pobreza que perduram em certos países, é um verdadeiro "atentado" aos pobres. Os pobres de "bens" não são forçosamente pobres de "espírito". Além disso, continuar a pensar que é a pobreza material de certos países que faz deflagrar o rastilho do terrorismo mais bárbaro, é continuar na lógica da "desculpabilização" - tão típica, des resto, ao "ocidente" em que nos tornámos nos últimos anos - que tem poupado dirigentes e políticos desses países - esses, sim, os verdadeiros responsáveis pelo atraso crónico em que os mesmos continuam mergulhados.

A legitimidade moral também não se mede pela capacidade de estar "disposto a morrer" por uma causa. Atar bombas ao corpo e fazer-se explodir no meio da multidão não prova nada a não ser a paixão pelo ódio (do ser) e pela igorância (nada querer saber da causa que nos move).

Se há algo que dá legitimidade moral é a vida. Estar disposto a viver - e não a morrer-, eis o que pode dar legitimidade moral a um acto. Mesmo que o preço a pagar seja a própria morte.

Há uma diferença profunda entre o bombista que reduz o mundo a escombros e o cidadão anónimo (iraquiano, por exemplo) que caminha sobre os escombros como um acto de "fé" para salvar o mundo que acredita ser possível construir. Refiro-me ao dia das eleições no Iraque, onde, apesar da intimidação, muitos quiseram "dar a vida"...pela vida, ao mesmo tempo que outros estavam dispostos a "dar a vida"...pela morte.

Um exemplo ético de como lutar nesta guerra.

7.7.05

A Pulsão de morte


Francis Bacon, Sangue no Chão - Pintura, 1986

A pulsão de morte - na sua versão destrutiva - continua a fazer estragos reais (e não apenas simbólicos ou imaginários) no coração da velha Europa. Desta vez foi em Londres. Da próxima, ainda não sabemos onde será.

Se isto não é a guerra, então o que é isto ?

5.7.05

Que farei quando tudo arde?


Morris Louis, Saf Gimmel, 1959

Cheirava a fumo. Havia fumo no ar, sobre a cidade.

A Tapada de Mafra, diziam os noticiários, ardia de novo, dois anos volvidos sobre o primeiro incêndio. Que fazer quando tudo arde?

Talvez ler: Que farei quando tudo arde (António Lobo Antunes).

Há títulos felizes na infelicidade.

2.7.05

o discurso do capitalista

Era preciso vir um partido de "esquerda" para ter a coragem (fala-se, a torto e a direito, de "medidas corajosas") para ir tão ou mais longe do que foi capaz, até hoje, qualquer partido de direita na consumação do "discurso do capitalismo". Veja-se como eles falam...

Eis a prova - como dizia o poeta - que mudam-se os tempos, mudam-se os partidos, mas já não se muda como soía.

É esta a famosa "douta ignorância" de Sócrates?

A ética do bem dizer

Em Portugal é costume dizer mal de não importa o quê. Abunda o escárnio e a má-língua.

Proponho que, sem dizer bem, se comece a bem-dizer o que se diz, seja mal ou bem.

Como já fizerem, de resto, poetas e escritores diversos.

Eis o princípio da subversão