27.5.10

A economia nervosa

Numa economia "nervosa", a grande escala, tende porventura a acontecer o mesmo que ao nível da "microfísica": quando se pretende "avaliar" objectivamente um determinado fenómeno acaba por se influenciar o comportamento do mesmo.

Não será também o que sucede com as empresas de Rating: ao pretenderem avaliar o "risco" da dívida deste ou daquele país não influenciarão - e, mais do que isso, determinarão - o seu próprio comportamento?

Não estaremos, então, perante aquilo que se chama - em particular no domínio da educação - uma profecia auto-realizada: os países considerados em risco acabam mesmo - quer estejam ou não verdadeiramente em risco à partida - numa tal situação?

Eis um dos paradoxos na era da "avaliação" (Jacques-Alain Miller) e da "sociedade do risco" (Ulrich Beck).

24.5.10

Tudo a nu...

Toda a gente fala, contra ou a favor, da jovem professora, Bruna Real, que acabou afastada das actividades lectivas por ter posado na revista Playboy.

Numa escola alemã da Hungria, uma jovem professora decidiu animar os seus alunos fazendo um streaptease.


Há algum tempo atrás, uma conhecida cientista e professora portuguesa  fez uma exposição com a matéria prima dos seus próprios orgasmos.

Em breve assistiremos, com toda a certeza, a outras manifestações do género:  numa sociedade da transparência, haverá cada vez mais desejo de ver e ser visto, de dar-se a ver.

É por isso que não deixam de ser, no mínimo, estranhas e paradoxais algumas reacções de indignação perante o caso da professora que posou na Playboy.


Mas não será, por outro lado - como acontece nalgumas comunidades com a reivindicação do uso do véu numa era supostamente dessacralizada - que estamos aqui perante algo que faz parte intrínseca da própria sexualidade: o retorno do "escuro" na era do "claro"?

Este é, na verdade, um domínio onde o claro-escuro é rei e senhor.

A nova panaceia

Na era da "loucura quantitativa", a "avaliação" surge como uma espécie de nova panaceia: pretende-se avaliar tudo e todos, acreditando, dessa forma, restituir ao mundo a confiança e a garantia perdidas.

A prova de que a "avaliação" pode chegar a ser uma ideologia e, mais do que isso, uma verdadeira impostura, é visível nas chamadas empresas de rating, que tantos estragos têm causado nos últimos tempos, em particular na economia e nas finanças europeias.

Há já quem fale na necessidade de "avaliar" a "avaliação" levada a cabo por estas empresas "avaliadoras". Seria preciso, talvez, revisitar Aristóteles para entender que estamos aqui ante o perigo de uma "regressão ao infinito": a avaliação precisa de ser avaliada; por sua vez, a avaliação da avaliação precisa de ser avaliada; e por aí fora até...ao infinito.

Um beco sem saída, portanto!

É natural, por conseguinte, que até a economia ande nervosa...

14.5.10

Que pensaria Marx

Diz-se por aí que os mercados andam "nervosos", "deprimidos"...

O que é isto: economia ou psicologia?

Que pensaria Marx desta linguagem?

13.5.10

Mudam-se os tempos...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Quem não conhece este famoso verso do poeta Luís Vaz de Camões?

Porém, ao ver o mar de gente que se espraiou em Fátima, dei comigo a pensar: ainda que mudem os tempos, a "vontade" permanece igual.

Dizendo de outro modo: se bem que mudem as vontades, o "desejo" mantém-se.

Ou então: mesmo quando o desejo parece mudar, eternamente deslocalizado de si mesmo, há uma estranha satisfação (um gozo, dizia Lacan no seguimento de Freud) que nos mantém inertes.

A prova está no ritornelo, no refrão que teima em repetir-se, indiferente à mudança e à passagem do tempo: Fado, Fátima e Futebol.

Fátima é o que se vê.

O futebol vem aí.

E o fado...é ainda mais antigo que a República.

12.5.10

Do pior ao pai

Em tempo de crise "permanente" - como outrora se dizia da revolução - o apelo a um "pai" - se bem que os pais de agora já não sejam exactamente como eram - volta a juntar multidões.

Bento XVI está em Portugal e trouxe com ele o barco do "sentido" - como se ouviu, hoje, no seu discurso inaugural - e garantiu, na missa que celebrou junto ao Tejo, na Praça do Comércio, que nenhuma força adversa  poderá destruir a igreja.

Nem os recentes casos de pedofilia no seu próprio seio, nem a ciência ou o capitalismo vigentes conseguiram destronar o fervor religioso.

"O futuro de uma ilusão" (Freud) está à vista: inabalável, triunfante. Com a vinda do Papa assistimos, não ao declínio, mas ao "triunfo da religião" (Lacan).

7.5.10

Fala quem sabe

Comentando algumas vozes críticas da sua posição adversa relativamente às "grandes obras públicas" e, em particular, ao facto de se preparar para ouvir sobre o assunto um grupo de ex-ministros das finanças que se opõem abertamente a tais investimentos, o Presidente da República, num tom algo jocoso, entre o desplante e o enfado,  disse o seguinte (e cito de cor): Eu sei muito bem o que estou a fazer. Esta é uma matéria de que ainda não me esqueci.


Mas será que o Sr Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor em Economia, Cavaco Silva, ainda não ouviu dizer que os mercados andam "nervosos"?

Apesar de "saber" muito de economia - mas alguém pode dizer que sabe muito de economia nos tempos que correm? - o Sr Presidente não sabe muito de literatura; competência, como sabemos - eis algo que se pode ainda  saber - da sua querida esposa.

Se soubesse um pouco mais de literatura - ele que até é conhecido como uma pessoa cuidadosa e prudente, fazendo, por assim dizer, a "economia" das palavras - poderia citar Baltasar Gracián, dizendo por exemplo: atenção, meus caros, é preciso, nos tempos que correm, uma certa "arte da prudência".


Mas nada: ele parece querer abordar a nova economia "nervosa" com os velhos instrumentos do "Discurso de Método", de Descartes.

E, no entanto, ele também sabe...que já não sabe nada, como diria Sócrates (refiro-me ao verdadeiro, o grego, não a qualquer simulacro). Com efeito, na sequência do mesmo comentário, e tendo como pano de fundo os milhões emprestados pela União Europeia e pelo FMI à Grécia, o Sr Presidente desabafou: Se isto não consegue acalmar os mercados, então o que conseguirá? Foi a pergunta que eu mesmo coloquei ao Sr Trichet (presidente do Banco Central Europeu - Sujeito-Suposto-Saber...de finanças e economia mais  do que ninguém) e ele teve dificuldade em responder (quem diria?).

Como "acalmar os mercados"...que andam tão agitados, tão sensíveis, tão "nervosos": lançando mais "gasolina" na fogueira (como fazem as empresas de Rating), vendo-se grego (como os gregos) ou com tiradas destas (como as do nosso querido Presidente)?

Venha o o Senhor das Moscas - ou o diabo, se preferirem - e escolha!

A loucura dos mercados

Diz-se que os mercados andam "nervosos"...

É a psicologização do mundo e da vida a chegar à economia.

3.5.10

WWW

Será que a resposta à velha questão freudiana "O que quer a mulher?" (Was Will das Weib) se tornou mais fácil na era da World Wide Web?

É em torno desta e de outras questões similares que irão decorrer as próximas jornadas do Centro de Estudos de Psicanálise.

É já no próximo dia 15 de Maio.

Para mais informações, consultar o site da Antena do Campo Freudiano.