25.2.06
Novas muletas para o sono
Às vezes só muito dificilmente conseguimos segurar o sono.
Cientistas britânicos estão à beira de resolver o problema com a invenção de um fármaco que irá reduzir a necessidade de sono para apenas duas horas diárias sem que isso afecte o rendimento das pessoas.
Os mesmos cientistas sonham já - pois quando se fala de sono, o sonho anda por perto - em superar completamente a necessidade de sono, com base na compreensão do relógio biológico humano, durante vários dias consecutivos.
Depois da(s) pílula(s) da felicidade, do Viagra, cada vez mais duradouro e potente (isto faria, com certeza, as delícias de Jeremy Bentham, que acreditava que a felicidade residia no prazer e que este era medido segundo a duração e a intensidade), chegou agora a vez do fármaco do sono, melhor seria dizer, da vigília. E aí temos um novo e admirável indivíduo de alta performance, como se diz, por exemplo, dos automóveis.
Não se trata de pôr em causa este e outros conseguimentos técnico-científicos - muitos outros vêm já a caminho; o que é preciso, talvez, é interrogar o desejo que sustenta uma tal pretensão da tecno-ciência na era do discurso capitalista.
Com efeito, a quem interessa um sujeito-máquina (gadget), de alta performance, com pouca ou quase nenhuma necessidade de dormir, sem ser afectado no seu rendimento, sempre a produzir, qual trabalhador ideal que (ainda) não existe na realidade?
Vale a pena pensar nisto, como é costume dizer-se na RFM.
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