22.2.06
Père-versions
De vez em quando recebo um eco, uma prova de que ao-menos-um ou dois, não apenas entram neste blog, mas dão-se ao trabalho de ler o que nele escrevi.
Desta vez, recebi, para ser mais rigoroso, dois comentários: um do Francisco Alves, bastante crítico, dizendo que eu falava sem conhecer, ou conhecendo pouco, da obra imensa do pensador Agostinho da Silva; outro, da Alexandra Lúcio, estabelecendo um paralelo entre um excerto da minha "postagem" e uma hipótese emitida por Jean Pierre Caillot sobre a "perversão".
Ao Francisco Alves já respondi por e-mail; respondo aqui à Alexandra. Escolho, para isso, um outro texto de Agostinho da Silva, intitulado: "Sobre a ideia de Deus" (in Dispersos)
Sendo Deus um dos nomes-do-pai por excelência, o que vemos neste texto é uma certa "père-version"(como dizia Lacan) de Deus, ou seja, uma versão do pai segundo a qual "Pai e Filho, sujeito e objecto, tempo e eternidade, Deus e o mundo, são apenas as duas faces (aparentes) de uma mesma banda de moebius a que Agostinho da Silva dá o nome de "Espírito Santo". Ou talvez, melhor dizendo, se pudesse falar aqui de uma espécie de "nó de trevo", mas falso (Cf Lacan, Seminário XXIII, Le Sinthome, p. 92), de tal forma que há "um erro em alguma parte no nó a três que faz com que este se reduza ao "círculo" (rond). Sob os contrários, tão ao gosto de Agostinho da Silva, ou sob a Trindade (do Pai, do Filho e do Espírito Santo), há um-todo-absoluto: "dele se não pode falar, ou o sentimos ou não sentimos".
"Ecúmena" é um outro nome para este "Absoluto". E é por dever ser "uma nação ecuménica", segundo a expressão de Agostinho da Silva, que cabe a Portugal o papel de "quarto elemento" neste falso nó a três.
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