No princípio era...a canção. Dos Deolinda. Depois o fenómeno cresceu, graças, em particular, às redes sociais, como o Facebook. Nasceu a "geração à rasca". A multidão à rasca. A manifestação à rasca. Já se anunciam outros "à rasca", como o 25 de Abril: a revolução dos cravos...que murcharam. E há sobretudo cada mais textos, hipertextos, intertextos...girando em torno dessa coisa que está à rasca ou que nos deixa à rasca.
Estar ou ver-se à rasca é sentir-se em apuros, atrapalhado, em dificuldades. Mas é também, num sentido mais "popular", sentir-se já com as calças na mão, não conseguindo reter por mais tempo "o desagradável excremento que provém do interior do seu corpo", como diria Slavoj Zizek (Elogio da Intolerância, Relógio D'Água, p. 12).
Num mundo em que os velhos ideais estão em declínio, o sujeito vê-se em apuros com esse objecto abjecto que o deixa "à rasca". Se "a merda também pode servir de matéria para pensar" (permita-se dizê-lo assim cruamente, como Zizek), resta saber o que vai cada um fazer desse objecto para além de "ficar à rasca", isto é, sem saber o que fazer.
Para já, temos vindo a assistir sobretudo a um fenómeno, como diria o velho Freud, identificatório: parvos que somos.
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