15.1.10

Será que é desta?

Tantas vezes se disse que Freud estava errado, ultrapassado, acabado...

Será que é finalmente desta?

A revista Philosophie Magazine decidiu lançar mais uma acha para a fogueira do debate colocando frente a frente Jacques-Alain Miller e Michel Onfray sob o lema: Acabar com Freud (En finir avec Freud)?

O resultado sairá no próximo número da revista (nº 36, 2010, disponível a partir de 21 de Janeiro, juntamente com um dossiê sobre Freud). Uma ante-visão do debate está já acessível em linha.

A não perder!

2 comentários:

Igor Lobão disse...

Boas Filipe.

Parece-me que o lema "Acabar com Freud" talvez seja um pouco épico, o que, de certa forma, só vem acentuar o facto de que ele está bem actual e virulento. É nesse sentido que vai, por exemplo Zizek, quando afirma, também de uma forma um pouco épica, que agora é que chegou a altura da psicanálise.

De qualquer forma parece-me importante discernir, nas actuais discussões que se fazem sobre a obra de Freud, dois momentos independentes, mesmo sabendo que, na sua independência, eles estão intimamente entretecidos: a descoberta do inconsciente e a descoberta da psicanálise como técnica.

São dois momentos que não são reconduzíveis a uma e mesma identidade, tal como se passa no caso de um pintor que visualiza no seu espírito um cenário e depois desenvolve a técnica para o exprimir ou um médico que descobre uma nova doença e posteriormente a técnica para a tratar. Também Freud descobre o inconsciente a partir dos sintomas, sonhos e actos falhos e desenvolve experimentalmente uma técnica de análise e de intervenção sobre essa dinâmica.

Nesse sentido, sejam quais forem as críticas que se possam fazer à construção e ao desenvolvimento histórico da psicanálise, sobre a sua validade ou eficácia (tal como se poderia criticar a técnica de um pintor ou de um médico ou de um músico), tal não implica que a outra descoberta absolutamente fundamental de Freud, a do inconsciente, seja minimamente beliscada.

Nesse sentido, poderia-se fazer duas perguntas de forma independente: qual a validade da psicanálise e qual a validade do inconsciente. Destarte, parece-me que somente através da "desconstrução" destas duas premissas é que se poderia "acabar com Freud".

Sabendo do rigor e da intimidade de Miller no que toca à psicanálise, espero que Onfray possa ser um interveniente à sua altura e que se possa realizar um bom debate crítico.

Parece-me que a psicanálise merece essa elevação, depois das interpelações tão pequeninas que tem vindo a ter ultimamente, como podemos verificar nisso que diz que é uma espécie de livro negro da psicanálise.

Igor

Filipe Pereirinha disse...

Igor

É um grande prazer voltar a encontrar-te desta forma!

Numa "era de cinismo", como se diz, o título do debate tem, naturalmente, qualquer coisa de "irónico".

Concordo contigo: se tanto se "ataca" Freud, é porque ele não está morto de modo algum. Mas é igualmente verdade, por outro lado, que os ventos que têm soprado ultimamente - e têm soprado com força! - vão noutras direcções.

A psicanálise não é (não deve ser) um bloco monolítico, inerte, petrificado, mas deve aproveitar - por que não!) a energia "eólica" dos ventos em vez de ser derrubada por eles.

A ver vamos!