Tantas vezes se disse que Freud estava errado, ultrapassado, acabado...
Será que é finalmente desta?
A revista Philosophie Magazine decidiu lançar mais uma acha para a fogueira do debate colocando frente a frente Jacques-Alain Miller e Michel Onfray sob o lema: Acabar com Freud (En finir avec Freud)?
O resultado sairá no próximo número da revista (nº 36, 2010, disponível a partir de 21 de Janeiro, juntamente com um dossiê sobre Freud). Uma ante-visão do debate está já acessível em linha.
A não perder!
2 comentários:
Boas Filipe.
Parece-me que o lema "Acabar com Freud" talvez seja um pouco épico, o que, de certa forma, só vem acentuar o facto de que ele está bem actual e virulento. É nesse sentido que vai, por exemplo Zizek, quando afirma, também de uma forma um pouco épica, que agora é que chegou a altura da psicanálise.
De qualquer forma parece-me importante discernir, nas actuais discussões que se fazem sobre a obra de Freud, dois momentos independentes, mesmo sabendo que, na sua independência, eles estão intimamente entretecidos: a descoberta do inconsciente e a descoberta da psicanálise como técnica.
São dois momentos que não são reconduzíveis a uma e mesma identidade, tal como se passa no caso de um pintor que visualiza no seu espírito um cenário e depois desenvolve a técnica para o exprimir ou um médico que descobre uma nova doença e posteriormente a técnica para a tratar. Também Freud descobre o inconsciente a partir dos sintomas, sonhos e actos falhos e desenvolve experimentalmente uma técnica de análise e de intervenção sobre essa dinâmica.
Nesse sentido, sejam quais forem as críticas que se possam fazer à construção e ao desenvolvimento histórico da psicanálise, sobre a sua validade ou eficácia (tal como se poderia criticar a técnica de um pintor ou de um médico ou de um músico), tal não implica que a outra descoberta absolutamente fundamental de Freud, a do inconsciente, seja minimamente beliscada.
Nesse sentido, poderia-se fazer duas perguntas de forma independente: qual a validade da psicanálise e qual a validade do inconsciente. Destarte, parece-me que somente através da "desconstrução" destas duas premissas é que se poderia "acabar com Freud".
Sabendo do rigor e da intimidade de Miller no que toca à psicanálise, espero que Onfray possa ser um interveniente à sua altura e que se possa realizar um bom debate crítico.
Parece-me que a psicanálise merece essa elevação, depois das interpelações tão pequeninas que tem vindo a ter ultimamente, como podemos verificar nisso que diz que é uma espécie de livro negro da psicanálise.
Igor
Igor
É um grande prazer voltar a encontrar-te desta forma!
Numa "era de cinismo", como se diz, o título do debate tem, naturalmente, qualquer coisa de "irónico".
Concordo contigo: se tanto se "ataca" Freud, é porque ele não está morto de modo algum. Mas é igualmente verdade, por outro lado, que os ventos que têm soprado ultimamente - e têm soprado com força! - vão noutras direcções.
A psicanálise não é (não deve ser) um bloco monolítico, inerte, petrificado, mas deve aproveitar - por que não!) a energia "eólica" dos ventos em vez de ser derrubada por eles.
A ver vamos!
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