19.1.10

Avaliar mata


Diz-se que o Inverno tem sido bastante rigoroso por essa Europa fora. E é verdade. Mas há um furacão ainda mais tempestuoso que, desde há alguns anos, varre com impetuosidade o velho continente: chama-se "avaliação".

Pretende submeter-se tudo à avaliação, avaliar tudo. O propósito tem ares de seriedade. Quem pode, em boa fé, contestar a exigência de avaliar teorias e práticas?

A avaliação é uma coisa boa. Até os professores, quando saíram à rua (mais de cem mil por duas vezes consecutivas), se apressaram a dizer que não estava em causa a avaliação, pois eles queriam ser avaliados, mas apenas aquele modelo de avaliação.

Ainda estamos no começo. A coisa vai aquecer. Como outras "pandemias" que agora estão na moda, a avaliação vai expandir-se rapidamente, matando toda e qualquer espécie de "singularidade", de criatividade, em nome do rigor, da transparência e outros nomes sonantes, em tudo quanto é actividade humana.

Por isso, é bom que se comece já a reflectir se querer avaliar tudo não significa tudo querer matar. Na verdade, como diz o cartaz do Fórum que vai ter lugar em Paris no próximo dia 7 de Fevereiro de 2010, jogando com o poder da homofonia, "avaliar tudo mata (évaluer tue)".

2 comentários:

António Duarte disse...

A avaliação é uma manifestação de poder. Biopoder. Avaliar para controlar e para dominar é a nova moda. Quem detém o poder quer avaliar uma vez que não já não o pode exercer como antigamente, pela opressão e pela coerção, pelo menos nas sociedades democráticas. Generaliza-se então a avaliação. Começámos a viver o totalitarismo da avaliação.

O filósofo José Gil aborda a questão na obra Em Busca da Identidade – O Desnorte.

Filipe Pereirinha disse...

É verdade. Em tempos dediquei um texto ao livro de José Gil (Cf. 10-09-09) e, em particular, ao capítulo que ele dedica à avaliação.