Ver não é a mesma coisa que olhar. Os cegos, por exemplo, ainda que não possam ver, podem olhar.
O olhar não se detém; é errante por natureza. Não se fixa. Ver é fixar o olhar. Para onde se dirige, então, o olhar daquele que olha, atento ou indiferente ao que vê?
Tendo, há algum tempo atrás, de deslocar-me ao Norte de Portugal por razões do foro académico, aproveitei para respirar um pouco os ares de Guimarães. Nesta bela e tranquila cidade, berço da nação portuguesa, há um castelo, como sabemos.
Havia turistas que entravam, enquanto outros saíam do castelo. Os que entravam (na verdade eu só pude transpor o limiar da entrada, visto que a hora do encerramento se aproximava) subiam, quase sem excepção, para os parapeitos das muralhas, olhando a paisagem que ficava em redor do castelo.
É algo em que muitas vezes (e em muitos lugares) eu tenho pensado. Entramos num castelo, numa torre...simplesmente para olhar...o que está cá fora. O interior e o exterior, em vez de serem lugares opostos, são como que atados, con-torcidos ou enovelados pelo fio do nosso olhar.
Não é a coisa vista que nos move, mas o olhar (para outra coisa) que ela nos suscita. É assim, também, a natureza do desejo: um desejo de outra coisa.
1 comentário:
Há quem olhe, de rompante, veja e encontre onde fixar o exterior do seu olhar. O olhar interior é bem mais difícil. Fico contente que consigas verdadeiramente olhar de uma forma "atada, contorcida e enovelada"o que te rodeia. No fundo, sempre gostaste de te olhar no verdadeiro significado da palavra.
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