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Michael Jackson não gostava de ver-se ao espelho (diz algures) nem de falar: fazia-se ver, expondo-se. Fazia-se olhar.
O pai (que pai era este?) costumava dizer que não era o papá de ninguém, enquanto chicoteava com o cinto o primeiro dos filhos que se atrevesse a cometer a mais pequena falha na execução musical.
Ao mesmo tempo que dava como exemplo o trabalho de Michael (ponham os olhos nele!), o pai costumava zombar do seu nariz (feio e achatado).
De todas as metamorfoses a que foi progressivamente sujeito o corpo de Michael, talvez a mais espectacular se prenda com o nariz. Michael Jackson fez literalmente o contrário do que é hábito dizer às crianças: não mexam no nariz! De facto, ao longo da vida ele não fez outra coisa: mexer e remexer no nariz.
Ele odiava tanto o seu pai que às vezes chegava a vomitar. Consta que ele foi excluído do testamento de Michael. Mas não foi a sua vida toda (ou quase) movida por isso mesmo que ele parecia odiar tanto, em particular essa frase, essa frases vociferadas por esta autêntica père-version, como diriam os franceses?
O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença. O pai de Michael Jackson era tudo menos indiferente para este.
2 comentários:
Será que todos aqueles que são obrigados a crescer demasiado depressa, muitas vezes pelas circunstâncias falimiares,ficam eternamente condenados a viver numa neverland ou wasteland, por obra e graça de uma fantasia criada como uma possível tábua de salvação de uma existência demasiado descarnada?
Pas-tout...
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