Em Portugal (e provavelmente em muitos outros países) os telejornais duram que se fartam. Parecem infindáveis. Elevam à dignidade de acontecimento a mais pequena banalidade, o assunto mais irrisório.
Numa sociedade que se pretende absolutamente "transparente", em que todos e cada um são chamados a confessar, a expor, a devassar a intimidade uns dos outros, os telejornais seguem a maré.
Onde tudo vale o mesmo, nada tem valor. Onde se faz acontecimento de tudo, nas se inscreve ou deposita. Não há sedimentação, real, das palavras que se dizem, das imagens que se agitam.
Ao mesmo tempo - e estranhamente - há coisas sobre as quais nunca se fala, pesando sobre elas um grande silêncio. É como nos vastos hipermermercados que parecem ter um pouco de tudo, mas, se procurarmos bem, há coisas que pura e simplesmente nunca lá estão. E essas coisas são, porventura, o que faz falta...
Não é a cultura, hoje, um grande, vasto e muitas vezes entediante hipermercado de ideias-feitas? Talvez seja necessário actualizar o dicionário de Flaubert!
1 comentário:
Adorei a ideia do "hipermercado da cultura". Penso que é uma boa imagem do que sucede em Portugal, pois, na realiade, a viagem não tem feito parte do meu vocabulário e, assim, não sei o que se passa para lá das paredes do meu quarto, como diria o grande G.Almeida.
Enviar um comentário